Quilombos, Terra de Deus
Encerrou-se ontem, dia 31 de julho, em Registro, SP, a XXI Assembléia da Associação dos Bispos, Presbíteros e Diáconos negros do Brasil. Para uma nação que tem em suas origens a raça negra e para uma Igreja que é formada também por ela, essa assembléia, como tudo que se refira aos negros é de suma importância.
Acolhendo com o coração e com a inteligência aquilo que a parcela negra da Igreja diz a ela mesma e à sociedade nacional, vemos no tema Quilombos, terra de Deus, a sede por um mundo pleno de justiça e de paz. Podemos nos perguntar por que desde o tempo de Zumbi e até hoje a existência de quilombos e do movimento negro.
Nessa Assembléia foi feita uma constatação de que as leis brasileiras emitidas desde 1831 até a famosa Lei Áurea, não deram ao povo negro o que cada uma aspirava em seu bojo. Podemos acrescentar porque talvez tenham sido outorgadas através da visão da raça branca, dominadora do governo social e portadora de audição defeituosa às autênticas necessidades negras.
Aliada a essa surdez, também acrescentamos uma visão defeituosa, ambas perdurando até hoje, confundindo cantos, ritmos, vocabulário e demais expressões culturais com teologia e religião. É necessário inculturar, isto é, separar o que é embalagem daquilo que é mensagem e isso é possível por causa do substrato existente em ambas as culturas, a negra e a branca, substrato que em primeiro lugar é o homem. É necessário aceitar a aculturação, a interação das duas culturas e, a partir daí, escutar e enxergar o que diz a religião africana tradicional e o que também diz a fé herdada de Abraão, revelada em plenitude por Jesus Cristo.
A partir da aceitação de que o Deus é o mesmo, de que Jesus Cristo morreu por todos, sejam negros ou brancos, que o binômio justiça e paz anunciado pelo Evangelho é o mesmo, ansiosamente desejado pelas duas culturas, a fé cristã deverá proporcionar um mundo sem quilombos, sem oásis, porque todo o mundo se transformou em grande quilombo, na terra de Deus.
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