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ISA e comunidades quilombolas realizam II Feira de Troca de sementes e mudas

Nem a chuva, nem o frio conseguiram impedir a II Feira de trocas de sementes e mudas tradicionais das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. A Feira aconteceu em Eldorado, no último dia 11 de julho, no salão paroquial da cidade. O objetivo foi incentivar a troca de sementes e mudas e a comercialização de produtos tradicionais.

Participaram da feira 15 comunidades dos municípios de Eldorado, Cananéia, Iporanga, Itaóca e Barra do Turvo. Assim, não só o número de comunidades participantes foi superior ao do ano passado, mas se ampliou também a área de abrangência geográfica da Feira.

Considerando as variedades de sementes e mudas levadas por cada grupo, se chega ao relevante número de 200, que testemunha a grande diversidade presente nas comunidades do Vale do Ribeira, tanto de espécies quanto de intra-específicas – só de feijão, por exemplo, havia mais de 15 variedades diferentes. A oferta de produtos para a comercialização foi bem mais significativa do que em 2008, quer em quantidade, quer em diversificação: estavam a venda mais de 20 tipos de produtos. Infelizmente, a realização da Feira em um local fechado, devido à chuva, diminuiu as possibilidades de saída, que, de qualquer forma, foi razoável.

A Feira contou com a colaboração direta de vários parceiros: a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), a Equipe de Articulação e Assessoria das Comunidades Negras (Eaacone) e Movimento per l’Autosviluppo, l’Interscambio e la Solidarietà (M.A.I.S.). Também apoiaram financeiramente a Feira a Organização Não-Governamental(ONG) Ajuda da Igreja da Noruega e o Ministério dos Assuntos Exteriores da Itália; a Fundação Florestal envolveu algumas comunidades das Reservas de Desenvolvimento Sustentável(RDSs) Quilombolas na Feira; o projeto Mercado Paulista Solidário apoiou mediante a cessão das barracas; o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) participou com a documentação em vídeo e a Prefeitura de Eldorado com o som.

O grande destaque da Feira foi o almoço promovido no evento, preparado com os produtos oferecidos pelas comunidades. O cardápio, elaborado por Monica Panetta, sócia do Convivium Slow Food de São Paulo, foi realizado pelas cozinheiras Nautica, Maria, Eva, Isaltina e Olinda. No almoço havia canja cremosa com pés e pescoço de galinha caipira, cozido de frango com legumes (chuchu, abóbora, inhame e banana-da-terra), arroz descascado no pilão, feijão mulatinho, farofa de ostra, saladas de rúcula e alface e torta de banana integral, suco de limão-cravo com gengibre e abacaxi com hortelã. Muito apreciado foi também o café-da-manhã, com bolo de milho e de amendoim, beijus de mandioca, cuscuz de arroz e de mandioca, mel e açúcar mascavo, carás, batata-doce e inhame.

Paralelamente à feira aconteceram apresentações culturais, entre as quais a dança do fandango da comunidade de Morro Seco, as cantigas das comunidades de Ivaporunduva e Bombas e a dança das crianças de Pedro Cubas.

A Feira foi prestigiada por várias visitas. Entre elas, a de uma delegação articulada pela organização Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (Rede), de Minas Gerais, composta por agricultores rurais e urbanos, e um grupo de sócios do Convivium do Slow Food em São Paulo, com chefes de cozinha, expertos de gastronomia e nutricionistas. Também visitaram a Feira a delegada do MDA, Maria Judith Gomes, o representante local do Itesp, Pedro Lima, e o representante no Brasil da ONG Rete di Tecnici(Rete), Furio Massolino.

Ao final do evento foi realizada uma discussão em grupos com os participantes para avaliação da feira, encaminhamentos e sugestões. Os principais aspectos levantados foram: que deve ser ampliada para mais comunidades da região, que devem ser estabelecidas parcerias com as prefeituras locais para apoio aos feirantes, que a feira está proporcionando aumento no plantio de roças feito nas comunidades, e que é um importante meio de comercialização e divulgação da cultura quilombola.

O compromisso das comunidades quilombolas com a conservação e valorização das sementes e mudas tradicionais foi claramente reafirmado em todos os seus aspectos da Feira: do ponto de vista técnico, como algo de mais adaptado ao clima e às condições tecnológicas das comunidades; do ponto de vista econômico, com a valorização dos produtos locais, especialmente na culinária; e do ponto de vista político, promovendo a independência e segurança alimentar, afirmando o direito das comunidades de produzir, usar, melhorar, trocar e comercializar sementes livremente.

Por outro lado, os agricultores das comunidades poderão conservar e reproduzir essa grande riqueza representada pela agrobiodiversidade só se foram garantidas as condições para fazerem isso. Neste sentido, é fonte de grande preocupação a demora dos órgãos públicos no encaminhamento da questão do licenciamento para a abertura de roças para cultivo, matéria que necessita urgentemente de uma definição clara, consensual e estratégica.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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