Arte e cultura do Jalapão
O povo do Jalapão, na sua maioria, descende dos negros trazidos pelos bandeirantes no século 18 para trabalhar como escravos nas minas de ouro. A comunidade do Mumbuca tem cerca de 50 famílias. Fica no município de Mateiros.
Os quilombolas do Mumbuca e várias outras comunidades do Jalapão vivem do artesanato de capim dourado. O capim é uma haste fininha que nasce nas veredas e campos do Jalapão. No alto produz uma flor branca onde estão as sementes. É tão importante na fabricação de artesanato que o povo o chama também de o ouro do Jalapão.
Ele é nativo do cerrado brasileiro. Seu nome científico é syngonanthus nitens e pertence a família das sempre vivas, um extenso grupo de plantas muito comuns nas montanhas de Goiás e Minas.
A bióloga Cassiana Moreira do Parque Estadul do Jalapão orienta as comunidades no manejo do capim dourado. “O capim em sua maioria é encontrado nas veredas e nos campos úmidos”, diz a bióloga.
O uso do capim dourado para fazer artesanato começou quando dona Miúda ainda era criança. Ela tem 78 nos e diz que aprendeu a costurar o capim vendo sua mãe fazer cestas com os índios que viviam na região.
Cirlene diz que foi o capim dourado que abriu as portas do povoado para o mundo, porque antes eles viviam muito isolados. “Antigamente quando a gente via um carro todo mundo corria para o mato e se escondia porque a gente tinha medo”, conta Cirlene.
Cirlene tenta imaginar como seria o Rio de Janeiro. “Eu vejo um pouco pela televisão, porque a gente não conhece tudo, mas vê algumas coisas como Copacabana e Leblon”, diz a garota.
Cirlene não conhece o Rio de Janeiro, mas o Rio conhece o capim dourado do Jalapão. A ala capim dourado fez sucesso no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Carnaval de 2007. Feixes de capim enfeitaram as fantasias.
As artesãs do Mumbuca criaram uma associação para organizar a produção e comercializar os produtos. E é possível fazer muita coisa com o capim dourado.
A casa da Jose é feita de adobe e coberta com palha de piaçava. Recentemente ela comprou cama, colchão, berço, geladeira, fogão e armários para a cozinha.
“Todas as coisas que eu tenho na minha casa foi com o trabalho do capim dourado”, diz a artesã.
Os principais compradores do artesanato são os turistas que visitam o Jalapão, como a família Lizigan, que veio em peso do Rio de Janeiro. Eles compraram muitos produtos.
O povo do Jalapão preserva muitos costumes antigos. Um deles é a farra dos caretas. Para conhecer essa tradição que se mantém viva há séculos, o Globo Rural foi até a cidade de Lizardas, um dos lugares mais isolados do Jalapão, no norte do Tocantins, divisa com o Maranhão.
Em Lizardas se preserva todos os costumes religiosos da Semana Santa. Mas no começo da noite da Sexta-feira Santa eles iniciam um ritual estranho que começa com a instalação de um cenário imitando uma roça. Eles fincam bananeiras e espalham muitas ramas de cana no meio. É o que eles chamam de a Quinta dos Caretas.
No meio do mato, os caretas, homens que não podem revelar suas identidades se fantasiam de demônios. A tradição veio de Portugal e foi introduzida no Jalapão pelo povo do Maranhão e do Piauí.
Neste tipo de brincadeira quem não é careta é enfrentante, ou seja, vai tentar invadir a quinta para roubar as canas enfrentando os chicotes dos caretas. Quem chama o público para farra é o ronca-tripa, uma cuíca gigante.
Os caretas circundam a quinta chicoteando o chão para espantar os enfrentantes. O povo espreita esperando o momento certo para roubar as canas. E basta um cochilo do careta e a invasão acontece. E tome chicote.
Para alegrar o público, os caretas trazem mais três personagens. O fantasma bonzinho, a rapariga dos caretas e o esqueleto de uma égua. No final, os enfrentantes, sempre em maior número, acabam vencendo o desafio e destruindo a Quinta dos Caretas.
Até hoje, costumes como o dos caretas se mantém por causa do isolamento das comunidades. Mas o maior desafio do Jalapão daqui para frente é conviver com a pressão intensa do turismo e da agricultura, e ainda preservar um dos ambientes mais ricos do cerrado brasileiro.
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