Festival do Beiju na comunidade de São Jorge
Quilombolas mudam Festival do Beiju no norte para outubro
Por Ubervalter Coimbra
O Festival do Beiju deste ano será realizado nos dias 17 a 19 de outubro, na comunidade de São Jorge, em São Mateus. Estava programado para o final deste mês. A mudança da data foi decidida pela Comissão Quilombola de Sapê do Norte, que é responsável pelo evento. O festival visa manter a cultura dos descendentes dos negros feitos escravos negros.
A informação sobre a nova data do festival é de Kátia Penha. Serão investidos R$ 100 mil no evento, que reúne milhares de pessoas anualmente.
Os recursos deste ano são do Ministério do Turismo, e foram destinados aos quilombolas através de emenda apresentada pela deputada Iriny Lopes (PT-ES) ao orçamento deste ano. Se dependesse da prefeitura de São Mateus, o evento seria coordenado por ela.
Mas os quilombolas exigiram manter a organização do festival sob seu controle. E se responsabilizarão pelas atividades e pela prestação de contas.
O Festival do Beiju já é tradição no Espírito Santo e é sempre realizado no território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Os quilombolas lutam para reconstruir o território.
Entre os objetivos do festival, o de manter a cultura dos descendentes dos escravos negros, obrigados a deixar o seu território pela Aracruz Celulose. O beiju é uma comida tradicional da época dos quilombos. Feito à base de mandioca, é consumido freqüentemente no café da manhã. Muitas das comidas são feitas na hora, produzidas em um forno especialmente construído.
Também na programação são habitualmente realizadas rodas de capoeira, promovidas danças afro, e debatidos os problemas dos quilombolas, entre os quais os criados pela Aracruz Celulose.
Entre eles, a falta de área para plantios de alimentos e a contaminação do solo, da água e do ar pelos agrotóxicos que a empresa usa nas plantações de eucalipto. Além da escassez de água provocada pela monocultura.
Pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) através do projeto Territórios Quilombolas no Espírito Santo confirmam que os negros foram forçados a abandonar suas terras em Sapê do Norte, onde existiam centenas de comunidades na década de 70, e hoje restam 37. Além da Aracruz Celulose, ocupam os territórios dos quilombolas a Suzano, empresas alcooleiras e fazendeiros.
Ainda na década de 70, pelo menos 12 mil famílias de quilombolas habitavam o norte do Estado: atualmente resistem entre os eucaliptais, canaviais e pastos cerca de 1,2 mil famílias. Em todo o Espírito Santo existem cerca de 100 comunidades quilombolas.
O projeto da Ufes também pesquisou e confirmou ser território quilombola 500 hectares de São Pedro, em Ibiraçu, onde vivem 24 famílias. E, 1.500 hectares em Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, onde vivem 102 famílias negras. Nestes dois municípios há grandes fazendeiros ocupando as áreas dos negros.
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