Quilombola marcado para morrer: Aracruz Celulose e policiais envolvidos
Por Cristina Moura
O representante do Conselho Nacional de Direitos Humanos no Estado, Isaías Santana, denunciou que o quilombola Berto Florentino, conhecido integrante do grupo Ticumbi de Conceição da Barra e que lidera a colheita de sobras de eucalipto, está marcado para morrer pela Aracruz Celulose, em conluio com policiais.
A empresa teria armado uma ardilosa situação que resultou na invasão e depredação da casa de Beto por policiais da Bahia e do Espírito Santo, sob alegação que ele possuía armas. A primeira invasão foi feita pela polícia de Teixeira de Freitas (BA), com mandado judicial, constando uma denúncia de que o quilombola portava armas de grosso calibre.
Posteriormente, e pelas mesmas razões, o delegado de polícia de Conceição da Barra, atendendo a um mandado judicial, também invadiu a casa de Berto Florentino. Não encontrando o que denunciava o mandado, destruiu parte do mobiliário da casa. As duas operações policiais não encontraram armas.
O que pareceu estranho na segunda invasão à residência do quilombola, que fica numa pequena propriedade agrícola, foi a alegação da polícia de que Berto teria alvejado um carro da Visel. Outro fato intrigante é que o mandado de busca e apreensão que a polícia entregou nessa recente investida estava datado de 4 de julho de 2007 e assinado pelo juiz Juracy José da Silva.
O estranho fato levou Isaías Santana a supor que as polícias já estavam de posse do mandado para invadir a propriedade de Berto quanto fosse conveniente. Santana disse, ainda, que a Aracruz encontra em Berto a referência da penetração nos eucaliptais para apanhar resíduos e galhos de eucalipto que não servem para a produção industrial.
Os resíduos comumente são deixados na área para adubação. As famílias passaram a sobreviver fazendo carvão desses resíduos, que se tornaram o principal meio de sobrevivência dos quilombolas.
Berto Florentino é visto como a liderança principal desse longo conflito entre a Aracruz e os quilombolas. O conflito, incentivado pela Visel, a polícia contratada pela multinacional, resultou também na invasão da casa dos quilombolas, a maior parte dos quais perdeu terras para a Aracruz Celulose.
Isaías Santana afirmou que, nesta segunda-feira (28), comunicaria à polícia o fato, que ele caracteriza como armadilha para eliminar Berto Florentino. O comunicado responsabiliza a Aracruz pelo que vier a acontecer com o quilombola.
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