Curiaú foi o primeiro quilombo reconhecido no Amapá
Por Alex Rodrigues
A comunidade de Curiaú foi o primeiro grupo social quilombola reconhecido no Amapá. Porém, antes mesmo do reconhecimento, o governo estadual já havia criado a Área de Proteção Ambiental (APA) de mesmo nome.
“Para impedir que o crescimento de Macapá engolisse a comunidade e destruísse as raízes culturais e sociais [da comunidade]”, afirma a educadora sócio-ambiental da secretaria de Meio Ambiente, Maria de Lourdes Ramos.
A área quilombola abrange 3.321 hectares dos 21.676 hectares da APA, composta por florestas, campos de várzea e cerrados. No local, cerca de 4 mil pessoas vivem da agricultura, da pesca, do cultivo de búfalos e do turismo.
Segundo o secretário extraordinário de Políticas para os Afrodescendentes, Josivaldo da Silva Libório, a comunidade de Curiaú se destaca não só por preservar sua cultura folclórica, suas crenças religiosas, mas também uma culinária típica.
“O Curiaú é uma grande referência da cultura afrobrasileira e seu tombamento serviu de exemplo para que outras comunidades do estado solicitassem o seu reconhecimento, facilitando inclusive que elas próprias se reconhecessem como remanescentes quilombolas”, diz o secretário.
Libório explica que, atualmente, há outras duas comunidades reconhecidas no estado, 11 em processo de reconhecimento e 46 já mapeadas e prestes a serem legitimadas. Para o secretário, a recente transferência de terras da União para o estado irá acelerar o processo de reconhecimento.
Para o quilombola Joaquim Araújo da Paixão, a comunidade de Curiaú é privilegiada. “Nossos antepassados conseguiram este pedaço de chão e o preservaram o quanto puderam. Nós também fizemos o que pudemos e já estamos indicando à próxima geração como elas devem fazer. Enquanto eu tiver vida, vou lutar até as últimas conseqüências para manter nossa cultura”.
Sobre a origem do quilombo, a tese mais divulgada, inclusive em material informativo do próprio governo, sustenta que os atuais moradores da área são remanescentes de antigos escravos que teriam fugido dos maus tratos a que eram submetidos na então vila de Macapá, onde eram empregados na construção de edificações públicas.
A hipótese, no entanto, vem sendo questionada por alguns historiadores, como Hermano Araújo, chefe da unidade de preservação e conservação da Fortaleza de São José, em Macapá.
Hermano conta que, por volta de 1760, o governo determinou que fosse construída uma vigia militar na foz do Rio Curiaú. Na época, diz ele, os soldados eram estimulados a, usando a mão de obra escrava, atuar também como colonos, recebendo, além do salário, um incentivo em dinheiro.
O historiador, no entanto, acredita que os negros que deram início ao quilombo já haviam sido libertados quando ocuparam o local. “Os negros que ocuparam a área eram escravos de um oficial que tinha uma gleba no local e que, antes de morrer, os alforriou. Eles ocuparam a área já libertos”, diz o historiador.
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