Tradicional Arraial da Pavulagem revive canções ribeirinhas e quilombolas

O tradicional Arraial da Pavulagem acontece neste domingo (27), a partir das 9h no centro histórico de Belém, com o quinto Cordão do Peixe-Boi, cortejo festivo que percorre a capital paraense, da escadinha do Cais do Porto (Praça Pedro Teixeira, ao lado da Estação das Docas) até a Praça do Carmo.

A partir das raízes da cultura amazônica, das lendas e crenças que povoam o imaginário popular, o Arraial do Pavulagem propõe festejar a tradição paraense junto à comunidade, por meio de três cortejos que já se tornaram parte da programação cultural da cidade. Há cinco anos, um deles, o Cordão do Peixe-Boi, criado em homenagem aos antigos cordões de bichos que celebravam o elo entre o homem e a natureza, inicia as atividades anuais do Arraial, preparando Belém para o período carnavalesco em grande estilo.

Mesclando elementos cênicos, musicais e carnavalescos, o cortejo é formado por cerca de quatro mil brincantes, entre integrantes do Arraial e simpatizantes, que saem às ruas equipados com vestes coloridas, instrumentos musicais, réplicas de bichos e, claro, o boi, imponente inspirador do grupo. No percurso, os foliões arrastam às ruas os moradores da Cidade Velha, resultando em um evento de forte cunho popular, que revive canções ribeirinhas e quilombolas, ao mesmo tempo em que apresenta composições inéditas e celebra a modernidade e o futuro da Amazônia.

Segundo um dos fundadores do grupo, o cantor e compositor Ronaldo Silva, há a preocupação do Arraial do Pavulagem em despertar, a partir do cordão, o caráter educativo e a visão crítica que a cultura popular proporciona ao paraense, indo além da simples celebração do passado.

A temática de 2008 surgiu durante um seminário realizado no município de Ourém, no qual foi despertada a necessidade de discutir a preservação do meio-ambiente em favor das populações tradicionais. Descobrimos que os moradores de Ourém enfrentam a seca do Rio Guamá em uma época do ano, devido à ação do homem. Vamos levar este problema à rua e questioná-lo com a comunidade, afirma Ronaldo.

Arraial do Pavulagem

O Arraial do Pavulagem surgiu em 1988 e tem seu nome baseado na lenda do boi-bumbá, que narra a morte e ressurreição de um boi nas imediações de Parintins (AM). A idéia do grupo, composto por cerca de 600 músicos, artistas, pesquisadores e profissionais liberais, é resgatar a tradição popular por meio de cursos, seminários e oficinas voltados à comunidade, culminando, em três momentos específicos do ano, em cortejos populares.

Além do Cordão do Peixe-Boi, há o Arrastão do Pavulagem, que celebra o período de festas juninas com uma série de cortejos alusivos à religiosidade, ao lado profano e às brincadeiras do povo, e o Arrastão do Círio, cuja homenagem à maior festa religiosa do mundo também inclui elementos que remetem à lenda da cobra grande e à tradição ribeirinha. Em 2003, foi criado o Instituto Arraial do Pavulagem, fundação sem fins lucrativos que desenvolve parcerias com os setores público e privado para promover eventos de caráter educativo e cultural.

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