Centro desenvolve projeto que incentiva o artesanato em comunidades quilombolas
Profissionais de design estão em alta no mercado
Do segmento automotivo ao artesanato, área apresenta grande potencial para trabalhadores
Ter um bom design, de preferência inovador, já é meio caminho andado para que um novo produto alcance sucesso no mercado. E isso vale para as mais diversas áreas, desde um pequeno objeto artesanal até uma jóia, um carro ou mesmo um empreendimento imobiliário, passando pela marca de uma empresa e pela embalagem de um produto. Por conta disso, os profissionais de design vêm ganhando destaque no mercado de trabalho e os mais experientes chegam a ser disputados pelas grandes empresas, a exemplo dos especializados em design automotivo.Como a Bahia não tinha tradição no ramo, a implantação do complexo Ford, em Camaçari, exigiu a importação de grande parte dos colaboradores lotados no setor de design, incluindo engenheiros e desenhistas industriais. Hoje, dos cerca de 50 que trabalham na área, muitos já foram captados no mercado local, graças a iniciativas de universidades que passaram a oferecer especialização com foco no setor automotivo.
O artesanato é outro ramo altamente valorizado pelo design. E foi justamente para estimular o segmento no estado, famoso pela riqueza cultural, que surgiu o Centro de Design da Bahia, no Terreiro de Jesus, Centro Histórico de Salvador. Em verdade, o CDB, uma estrutura que custou quase R$1 milhão ao Sebrae (em 2005), ressurgiu depois de 18 meses fechado, graças a uma parceria com a ONG italiana SUD-UIL, ligada à União Italiana do Trabalho, considerada uma das maiores centrais de trabalhadores daquele país. Reinaugurado no início de novembro, o CDB está ligado a dois projetos: o Centro de Apoio ao Artesanato Mineral da Bahia (Minarte) e o Centro de Formação de Cerâmica Artística da Bahia.
Nos dois casos, o foco é o fortalecimento da economia solidária, apoiando microempresas e cooperativas no desenvolvimento de produtos de comunidades artesanais de Salvador e regiões do interior do estado. A SUD-UIL investiu R$70 mil na recuperação da sede e já promoveu oficinas, desenvolveu catálogo de peças para os dois segmentos e abriu espaço na sede para exposição de produtos das comunidades beneficiadas pelos projetos.
“Nossa meta agora é estender as atividades de cerâmica para o interior do estado, incluindo comunidades indígenas da região sul e quilombolas da Chapada Diamantina”, anunciou Bruno Ferro, representante da entidade italiana na Bahia. Ele conta que a SUD-UIL só aceitou o desafio de reestruturar o Centro de Design com o compromisso de que a filosofia de trabalho seria direcionada para o fortalecimento da economia solidária, dando apoio a microempresas e experiências associativistas.
No caso das cooperativas de artesanato, por exemplo, a atuação do CDB visa, segundo Ferro, “contribuir para a formação de sistemas produtivos sustentáveis, que permitam o desenvolvimento econômico de forma articulada com a melhoria da qualidade de vida da população”. Isto inclui o desenvolvimento, através do design, de produtos e embalagens ambientalmente corretos, da fase de pré-produção ao descarte.
Retomada – O CDB foi criado em 2004 pelo Sebrae, em parceria com o governo estadual, através do Centro de Negócios da Bahia (Promo), mas esbarrou na falta de demanda pelos serviços, o que garantiria a manutenção da estrutura e recursos para novos investimentos. A retomada do CDB contou com o envolvimento dos antigos parceiros e de instituições como a Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e Liceu de Artes e Ofícios. O apoio dado pelo CDB vai da capacitação para a produção à comercialização, passando por exposições, feiras, concursos, intercâmbios nacionais e internacionais e missões técnicas.
Há cursos desde a década de 50
Desde a década de 50 há cursos no Brasil voltados para o design, só que com a denominação de desenho industrial. A tradução foi necessária porque a legislação brasileira proibia cursos universitários com nomes estrangeiros. O profissional, entretanto, já é identificado como designer e aos poucos alguns cursos começam a incluir o termo em suas denominações.
Entre as diversas áreas de design, destaque para as de artesanato, jóias, animação, artes gráficas, brinquedos, automóveis, cinema, ambientes, personagens, ecodesign, produtos, embalagens, editorial, ergonomia, fotografia, gamedesign, marcas, materiais e processos, moda, modelagem, publicidade, motion design e webdesign.
O blog Bahiadesign fez uma enquete com os profissionais sobre as áreas com maior demanda por cursos de mestrado e a maioria votou no design gráfico (45,28%), seguido de design informacional, designs de interface e de produtos, cada um com 15,09%. Publicidade e propaganda foi a escolha de 9,43% dos que votaram. “Esta é uma grande dica para as faculdades”, observa a responsável pelo blog, a designer Alice Vargas.
Entre as opções de cursos disponíveis na Bahia estão os da Universidade Federal da Bahia (Ufba / desenho industrial e programação visual), Universidade do Estado da Bahia (Uneb / desenho industrial e programação visual), Unifacs (design gráfico – meios digitais), Faculdades Jorge Amado (design gráfico e engenharia de produção), Área1 (engenharia de produção) e FTC (moda e engenharia de produção). Há opções, ainda, de cursos de curta duração, como os tecnológicos em design de moda e gestão de design de interiores, lançados recentemente pela FIB.
Na Uneb, os estudantes e professores estão tão organizados que promovem encontros anuais para debater tendências e temas em destaque e fazer a ponte com profissionais da área. O 3º Encontro Design Uneb (EDU), realizado nos dias 29 e 30 de novembro e 1º de dezembro, teve como tema principal a Comunicação 2.0, uma nova forma de transmissão de conhecimentos e informações. Além disso, entrou na pauta dos debates e oficinas jogos virtuais, cibercultura e influência do consumidor na construção de novos produtos. “O evento busca a reciprocidade de conhecimento e informações”, frisa Amanda Rodrigues, da comissão organizadora.
Salão destaca trabalhos inovadores
Além da reativação da Centro de Design da Bahia (CDB), os profissionais da área tiveram outra boa notícia em 2007: a criação do Salão de Design pela Fundação Cultural do Estado, através da Diretoria de Artes Visuais, contemplando os segmentos de desenho gráfico, produto e web. Realizado no Palacete das Artes (antigo Museu Rodin), o Salão destinou R$20 mil para premiar os quatro melhores dos 18 trabalhos expostos.
“Mesmo a Bahia não sendo um grande pólo industrial, o design tem uma ligação direta com a economia da cultura. O que não existiam eram políticas que dessem visibilidade a essa produção”, resumiu Ayrson Heráclito, diretor de Artes Visuais da Funceb, na abertura do evento, dia 5 de dezembro.
Para a diretora-geral da Associação Baiana de Design (ABDesign), Goya Lopes, designer de moda que se destacou no mercado baiano por suas estampas inspiradas na cultura africana, o Salão de Design é uma iniciativa importante por abrir as portas para novas ações de incentivo às diversas linguagens do design: “Eu acredito que, no futuro, vão existir várias possibilidades de premiação, com o aperfeiçoamento do próprio edital”.
Pela importância do tema para a economia e o turismo do estado, durante o evento foi realizada uma mesa-redonda sobre o design no Carnaval de Salvador, com a presença de designers que se especializaram na produção de fantasias, alegorias, decorações e estampas para entidades carnavalescas.
Prêmio na Europa – Os produtos brasileiros com design inovador estão tendo mais visibilidade também no mercado externo. Uma prova foi a recente premiação de 17 produtos com a etiqueta “made in Brazil” no iF Design Award 2008, evento considerado o Oscar do segmento. A cerimônia de entrega será dia 8 de março, na Feira de Hannover, na Alemanha.
A participação dos produtos brasileiros – 98 concorreram em meio a 2.771 inscritos do mundo inteiro – foi possível com o apoio do governo federal, através da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que criaram em parceria o projeto Design Excellence Brazil (DEBrazil). Entre os produtos que conquistaram o selo iF Design, a gestora do projeto na Apex-Brasil, Suelma Rosa, destaca computadores, mobiliário, luminárias, utensílios domésticos, cuidados com a saúde, transporte e embalagens. “Foi a primeira vez que um computador brasileiro levou o selo. É uma surpresa, porque normalmente esses prêmios ficam com empresas americanas”, comenta. O Brasil está entre os dez primeiros países do ranking dos mais premiados do iF Design Awards.
As empresas finalistas são: Cerâmica Portobello (revestimento cerâmico), Ateliê Moema Cardoso (vidro reciclado), HB Adornos (anel), Duratex/Deca (cuba), Baumer (mesa cirúrgica), Lumini (luminária), Itautec (teclado), Electrolux (lavadora de roupas), Light Design Iluminação (três luminárias premiadas), Daiken Indústria Eletrônica (plataforma veicular), Vinícola Miolo (embalagem de bebida), 3X (mobiliário modular), FGM Produtos Odontológicos (embalagem de resina), Uia Eco Design (estofado) e Facilities do Brasil (mesa para refeições).
Ford valoriza talento nas contratações
Ter um bom portfólio. Esse é o principal requisito para quem pretende disputar uma vaga do setor de design da Ford. “O candidato pode ter estudado na melhor universidade, mas o principal critério de avaliação numa seleção é o portfólio, porque tem que ter talento”, enfatiza o gerente de Design da montadora para a América do Sul, João Marcos de Oliveira Ramos.
Ele argumenta que o carro é um produto diferenciado e que exige paixão na hora da criação. Para incentivar essa paixão e detectar, desde cedo, que já tem este talento “no sangue”, a Ford promove, uma vez por ano, concurso de desenho para filhos de funcionários, até 12 anos de idade, e visitas ao reservado estúdio de design. Este ano a visita, que é restrita, foi estendida aos pré-universitários.
Como a Bahia não tem tradição na área automotiva, a maioria dos cerca de 50 colaboradores do setor no complexo de Camaçari ainda é de outros estados. Mas, observa Ramos, o quadro vem mudando e muitos profissionais já despontam no mercado, conscientes de que essa é uma área valorizada, com grandes oportunidades.
“O mercado está aquecido e os salários estão no mesmo nível dos de engenharia”, diz João Marcos, frisando que a empresa não revela faixas salariais. No Brasil, segundo ele, ainda não existe uma faculdade focada em “transportation design”, como as existentes na Europa, mas já há vários cursos de desenho industrial e engenharia direcionados para a área automotiva.
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