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Aracruz, governo e Igreja promovem conflitos ambientais no Estado

Por Ubervalter Coimbra

A Aracruz Celulose, o governo do Estado e a Igreja são agressores das comunidades quilombolas e indígenas no Espírito Santo, e colocaram o Estado no “Mapa de Conflitos Causados por Racismo Ambiental no Brasil”, cujo levantamento inicial foi realizado em junho de 2007. A denúncia é da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, divulgada nacionalmente no final da semana.

A pesquisa divulgada pela rede foi realizada por Tereza Ribeiro, sob a coordenação de Tânia Pacheco. A Rede Brasileira de Justiça Ambiental é uma articulação formada por representantes de movimentos sociais, ONGs, sindicatos e pesquisadores de todo o Brasil. A rede foi criada em 2001 “com o objetivo de combater a injustiça ambiental no Brasil”, como informa no seu site.

O Espírito Santo “passa por vários conflitos sócioambientais”, aponta o documento. E dá clareza: os agressores são a Aracruz Celulose (desde 1967), o governo do Estado, por conivência, e inclui a Igreja, por racismo.

No “Mapa de conflitos causados por Racismo Ambiental no Brasil”, as regiões apontadas no Espírito Santo são Aracruz, Conceição da Barra e São Mateus, os dois últimos formando o território do Sapê do Norte.

Na síntese dos conflitos, a “degradação do meio ambiente e problemas sociais/monocultura do eucalipto, expropriação territorial e discriminação racial”. O estudo aponta que os grupos atingidos são comunidades quilombolas e povos indígenas e destaca ainda os agressores: “Aracruz (1967), governo do Estado (conivência) e Igreja (racismo)”.

As comunidades atingidas contam com apoios, articulações e parcerias da “Fundação Palmares, MPA (Movimento de Pequenos Agricultores), Comissão indígena, Rede Alerta contra o Deserto Verde, MST”, destaca o documento.

Tereza Ribeiro e Tânia Pacheco destacam ainda que o Espírito Santo passa por vários conflitos sócioambientais. Relatam:“Além da Aracruz Celulose, empresas que produzem açúcar e álcool e fazendeiros ocupam territórios quilombolas e indígenas no Estado. Há descaracterização na cultura (tradições rurais e culturais), social, econômica e religiosa”.

E seguem: “Contaminação do solo e da água (lençol freático) e do ar por veneno e córregos e nascentes secos. Grupos sofrem ameaças. Três comunidades quilombolas já têm os estudos técnicos realizados pela Fundação Palmares e Incra, e outras duas estão em fase de pesquisa”.

Lembram que “nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra vivem aproximadamente 35 comunidades de descendentes dos antigos quilombos, organizados desde a época da escravatura. São povos que resistiram durante séculos ao racismo e que, atualmente, lutam por direitos negados desde a época que foram trazidos a força da África. A Aracruz Celulose, utilizando-se de transferências ilegais de terra, roubou dos quilombolas suas terras e os obrigou a viver ilhados pelas plantações de eucalipto”.

As produtoras do “Mapa de Conflitos Causados por Racismo Ambiental no Brasil” afirmam que “hoje, é difícil mensurar a dimensão do estrago e da dívida social, ambiental, cultural e econômica da Aracruz Celulose com comunidades quilombolas do Sapê do Norte, que invadiu expulsando milhares de famílias de seus territórios, destruindo o seu modo de vida; destruiu milhares de hectares de mata atlântica; secou dezenas de rios e contaminou dezenas de outros rios com grandes quantidades de agrotóxicos aspergidos diariamente sobre a grande monocultura do eucalipto e, ainda, mantém uma milícia armada vigiando as famílias 24 horas por dia”.

Denunciam ainda os conflitos da Aracruz Celulose por “expropriação territorial e discriminação racial associados à degradação ambiental e aos Tupiniquim e Guarani”. E que “depois que a Aracruz invadiu as terras indígenas, restaram apenas três aldeias Tupinikim: Comboios, Pau Brasil e Caieiras Velha, cercadas pelo eucaliptal. Com a chegada dos Guarani Mbya nos anos 60, vindos do sul, na caminhada pela busca da Terra sem Males, os Tupinikim os acolheram e ganharam força na luta contra a multinacional. Dizem que a Aracruz fez acordo de plantio por 20 anos (técnicos alertam para a improdutividade da terra) e tentam reivindicar suas terras (NR: conseguiram recuperar 18.027 dos 40 mil hectares tomados pela empresa)”.

Além disso, apontam que “a Aracruz Celulose está sendo investigada pela distribuição em escolas, no ano passado, de cartilhas que suscitam o racismo contra índios Tupiniquim e Guarani instalados em Aracruz (ES), cidade-sede da empresa. O material foi classificado como ‘desqualificativo à cultura indígena da região’, segundo André Pimentel Filho, procurador da República do Ministério Público Federal”.

Os conflitos no Espírito Santo ocupam as páginas 52 a 59 do “Mapa de Conflitos Causados por Racismo Ambiental no Brasil”.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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