Informativo Territórios Negros chega à trigésima edição
TN chega à trigésima edição
O Informativo Territórios Negros chega à trigésima edição com as palavras do editor: “sete anos e trinta número depois, a missão deste informativo não poderia ser mais atual: contribuir para o surgimento e consolidação de uma rede de apoio às comunidades quilombolas, por meio da produção e circulação de notícias.”
Neste número, o TN conta com 15 notícias de comunidades de todo o País; uma resposta dos quilombolas da Marambaia para as notícias equivocadas do O Globo, na seção Fala Quilombola; e com textos sobre São Francisco do Paraguaçu e Mandinga no “Um território” e “Um pouco de História”.
Encarte especial
Nessa edição o informativo Territórios Negros traz o encarte “Especial KOINONIA na Bahia” que traz notícias sobre as ações do Programa Egbé Territórios Negros, na região do Baixo Sul da Bahia, para promover o projeto “Capacitação e Apoio ao desenvolvimento de Comunidades Negras Tradicionais no Brasil” co-financiado pela União Européia, Christian Aids e Church Devlopmente Service (EED). O encarte apresenta ainda o Fala Quilombola com depoimento sobre um caso de intolerância religiosa vivido na região.
Leia o TN31 visitando a seção Territórios Negros
Leia a seguir a íntegra do editorial:
EDITORIAL
Sete anos e trinta números depois, a missão deste Informativo não poderia ser mais atual: contribuir para o surgimento e consolidação de uma rede de apoio às comunidades quilombolas, por meio da produção e circulação de notícias.
Hoje está claro que, por vivermos em um Estado democrático regulado por uma legislação que preza pelo respeito aos direitos humanos, tornou-se impossível continuar utilizando as velhas formas de expropriação e opressão. Populações que até pouco tempo atrás eram vistas apenas como exército de reserva de mão-de-obra ou como massa de manobra começaram a ser reconhecidas, a se reconhecerem e a atuarem como sujeitos políticos e econômicos.
Porém, todos os envolvidos ou que apenas acompanham a situação dessas comunidades, entre elas a quilombola, sabem que se trata ainda de um processo que começa a ganhar corpo. Mesmo assim, já representa uma ameaça insuportável para os atores políticos e econômicos que sempre desfrutaram de privilégios. A cada avanço na consolidação de direitos, há uma resposta contrária, e cada vez mais violenta.
Mas como já não é possível mobilizar com a mesma impunidade os instrumentos de repressão desenvolvidos e utilizados nos últimos 500 anos, essa reação tem que se adaptar. Em um texto recente da Comissão Pastoral da Terra falava-se, apropriadamente, dos “novos capitães do mato”. Suas armas são a manipulação de notícias e a repetição incansável de idéias anti-democráticas, anti-humanistas e explicitamente reacionárias que, de tanto serem repetidas, acabam deixando de ser absurdas e passam a ser aceitáveis para, logo depois, se tornarem verdades absolutas.
A imprensa, instrumento fundamental à ordem democrática, tem sido usada assim: discrimina opiniões, falsifica notícias, nega direito de resposta e fomenta antigos medos e fantasmas. Fantasmas que são ressuscitados para impedir a efetivação de direitos estabelecidos na Constituição Federal e na legislação nacional e internacional, tais como os próprios Direitos Humanos, a função social da propriedade, o direito à organização política, o direito ao pleno reconhecimento das diferenças.
Nesse campo a luta é muito desigual: ainda que não haja monopólio formal dos meios de comunicação, há um monopólio econômico efetivo. Ainda que haja uma suposta concorrência entre os veículos da imprensa, a maioria deles acaba sendo pautada e repetindo as idéias do mais forte. Aos poucos, a desinformação produzida por esses novos capitães do mato midiáticos acaba por formar a opinião até mesmo de camadas razoavelmente bem informadas e bem intencionadas, isolando a questão quilombola.
No número passado, nosso editorial falava da forma sistemática que estava assumindo a oposição de boa parte da imprensa à questão quilombola. Neste número, registramos não só a campanha contra uma dessas comunidades – São Francisco de Paraguaçu –, assim como os seus efeitos políticos e administrativos. Essa parte da imprensa agora pauta também a ação governamental e já é possível identificar termos e idéias desses novos ideólogos da direita anti-quilombola em pareceres oficiais de órgãos governamentais. É diante disso que vimos confirmar o nosso compromisso com a missão de dar voz a grupos cuja perspectiva ou é desconhecida ou é distorcida por essa grande imprensa. Uma tarefa cada vez mais urgente.
José Mauricio Arruti