Quilombolas em debate na Biblioteca Nacional
Uso coletivo e inalienável da terra dão projeto a comunidades negras descendentes de escravos foragidos.
A resistência negra foi tema de debate.
Marina Lemle
O quilombo do século XXI tem uso coletivo da terra e orgulho da sua história. A visão positiva é da historiadora Hebe Mattos, professora da UFF, que participou do debate “Quilombos – escravos desafiam o poder”, da série Biblioteca fazendo História, em 11 de dezembro, na Fundação Biblioteca Nacional, no Centro do Rio.
Hebe, que acaba de lançar o DVD “Jongos, Calangos e Folias: Música Negra, Memória e Poesia”, sobre as manifestações culturais de diversos grupos descendentes da última geração de africanos e escravos no estado do Rio de Janeiro, explicou que a titulação coletiva e inalienável da terra é o condicionante jurídico do reconhecimento de um grupo como remanescente quilombola, e isso faz com que a comunidade tenha um projeto.
A professora observou que nem todo o campesinato negro era formado por escravos foragidos ou constituiu-se como quilombo. Mas, a partir da segunda metade do século XIX, com o fim do tráfico de escravos, houve um crescimento da população afro-descendente livre, ao mesmo tempo em que houve um crescimento das fugas, resultando num aumento dos quilombos, do campesinato negro e da circulação de negros libertos em busca de empregos.
“As fugas em massa tomaram dimensões espetaculares em algumas regiões, num contexto de desobediência civil que culminou na abolição da escravatura”, disse Hebe.
De acordo com a pesquisadora, ao longo do século XX o campesinato negro ficou esquecido, mas com a transformação de Zumbi e o quilombo dos Palmares em símbolo da resistência negra e a perspectiva de reparação com o reconhecimento como remanescentes quilombolas, a história começa a se revelar. O estudo dos quilombos e do campesinato negro é um desafio para os historiadores, disse.
Nessa perspectiva de pesquisa histórica de um campo esquecido, vale destacar o trabalho do pesquisador pernambucano Rômulo Luiz Xavier do Nascimento, que também participou do debate. Doutorando em História pela
UFF e especialista em quilombos na época da invasão holandesa, Xavier escreveu artigo na edição de dezembro da Revista de História da Biblioteca Nacional (nas bancas) no qual aborda as dificuldades que os holandeses também tiveram, assim como os portugueses, com a fuga e a formação de quilombos na região.
Em 15 anos de ocupação, os estrangeiros não conseguiram conter a resistência dos negros na região que compreendia os atuais estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Por outro lado, holandeses e quilombolas desenvolveram uma relação de pequenos proveitos.
Além do artigo de Xavier, a Revista de História da Biblioteca Nacional nas bancas traz mais três artigos sobre a história e a resistência negra no Brasil escravagista.
Saiba mais:
Jongos, calangos e folias no Rio rural
<http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1257>
Pesquisa da UFF que resgata memória e música negras em comunidades fluminenses é lançada em DVD
Palmares entre sangue e fogo
<http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1262>
O estudo sobre o Quilombo de Palmares é um campo em aberto, merecendo investigações
A nova cor da disputa agrária
<http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1298>
Comunidades negras rurais conquistam comunidades em todo Brasil, contrariando interesses dos grandes proprietários
Caçada aos ‘bosnegers’
<http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1320>
Os holandeses expulsaram os portugueses de Pernambuco, mas não conseguiram conter a fuga de escravos
Ameaça negra <http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1296>
Escravos fugidos assombravam a Colônia e inspiraram lendas que a História não confirma
Herança negra
<http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1297>
Quilombolas interagiam com comunidades locais e criaram núcleos locais que sobrevivem até hoje.
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