Quilombolas participam de manifesto contra transposição do Rio S. Francisco
Manifestantes param trânsito em ponte sobre Velho Chico
Mais de mil pessoas fecharam a ponte da BR-242 sobre o Rio São Francisco no município de Ibotirama (BA). A ação foi um protesto contra o projeto de transposição de águas do rio São Francisco e em solidariedade ao jejum de dom Luiz Cappio, que hoje entra em seu 10º dia de greve de fome. O protesto durou das 6h30 às 14h, informou Albetânia Souza Santos, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Bom Jesus da Lapa. Segundo Albetânia, o ato “foi um aviso do povo em favor da revitalização do Rio São Francisco, contra a transposição e em solidariedade ao frei Luiz”.
No final da tarde, os antitransposição percorreram as ruas de Ibotirama e encerraram a mobilização com uma oração às margens do Velho Chico. Participam da manifestação os movimentos que fazem parte da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Rurais Acampados, Assentados e Quilombolas da Bahia (Ceta), Centro de Assessoria de Assuruá (CAA), quilombolas, geraizeiros, representantes da reserva extrativista Serra do Ramalho e pessoas ligadas à igreja.
Anteontem à noite, dom Cappio contou com o apoio de 20 padres na celebração litúrgica que encerrou a Caminhada pela Vida do Povo e do Nordeste. “Não podemos deixar que a força do capital roube esse direito de todo o povo brasileiro, não podemos permitir”, declarou durante o sermão, quando aproveitou para chamar as pessoas para as mobilizações. “Chegou o momento de nós defendermos e lutarmos pela vida dele”.
“Nós estamos aqui em solidariedade para garantir a preservação da biodiversidade para garantir a vida das futuras gerações”, disse Derli Casali, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Dom Cappio acompanhou a caminhada de carro. Mesmo assim, surpreendeu ao ser examinado depois da caminhada e registrar pressão 11 por 8. Os organizadores contabilizaram cerca de quatro mil pessoas na passeata, que seguiu da Capela de São Francisco, em Sobradinho, às margens do Velho Chico.
Deputado tentará intermediação
A criação de uma comissão da Câmara dos Deputados visando a negociação do fim da greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, foi proposta pelo deputado federal Nelson Pellegrino (PT). É a segunda iniciativa parlamentar com esse fim. Uma intermediação para o fim do jejum de protesto foi iniciada na semana passada pela Comissão Especial do Rio São Francisco, presidida pelo deputado democrata Misael Neto (DEM) da Assembléia Legislativa da Bahia. A greve de fome, que hoje entra no 10º dia, é a segunda de dom Cappio contra o projeto de transposição das águas do Velho Chico.
Pellegrino, que é favorável à realização da obra, entende que, no momento, a grande preocupação é com a saúde do frei. “Esta é a segunda greve de fome que ele faz. A primeira vez houve negociação e a greve foi suspensa. Mas o bispo considera que o debate não foi à frente. Temos que debater esse assunto com o bispo Cappio, que é contra o projeto, para tentar uma negociação no sentido de que ele suspenda a greve, mas que o governo possa levar adiante o projeto”, ressaltou Pellegrino.
Em outubro de 2005, o religioso passou 11 dias sem se alimentar na cidade de Cabrobó, em Pernambuco, onde fica um dos canais que deverá levar água do rio para três estados do Nordeste. A dificuldade para a criação da comissão é que o parlamentar proponente encontra-se no Panamá, representando o Congresso Brasileiro na primeira Reunião Geral de Comissões do Parlamento Latino-Americano (Parlatino).
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