Lula libera verba para quilombolas e diz que toda ajuda pra pobre dá ciumeira
BRASÍLIA – Em discurso inflamado na cerimônia de comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra, na qual anunciou a liberação de R$ 2,3 bilhões até 2011 em projetos e ações voltados às comunidades remanescentes de quilombos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou as pessoas que posam de democratas, mas no fundo não querem partilhar as conquistas social.
Referindo-se a atritos que estariam ocorrendo em universidades mineiras entre os alunos que pagam as mensalidades e os cotistas do ProUni, Lula disse ter consciência de que o fato de haver negros que estudam de graça ao lado de brancos que pagam pode provocar fissuras, mas afirmou que o governo trabalha para combater os efeitos da segregação racial.
Tem gente que da boca pra fora é democrático e igualitário, mas na hora da partilha do pão, tem cara que quer mais pão que o outro, não quer dividir
– Toda ajuda pra pobre dá ciumeira. Não querem que ajude. Ser pobre e negro é pior ainda, é cultural, está impregnado no nosso cérebro. Tem gente que da boca pra fora é democrático e igualitário, mas na hora da partilha do pão, tem cara que quer mais pão que o outro, não quer dividir. Tem pessoas que parecem de esquerda, mas que são mais conservadoras do que o conservador – afirmou o presidente.
Lula pediu à ministra da Secretaria Especial de Promoção e Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que cutuque os 14 ministérios envolvidos para que implementem as medidas previstas na Agenda Social Quilombola. Segundo ele, é do somatório da cutucação que sairão as medidas para resolver os problemas das 1.700 comunidades quilombolas espalhadas pelo país. Lula disse ainda que é preciso criar o Conselho Gestor para cuidar da implementação das medidas, de forma a deixar claro que é um programa de Estado, e não apenas de um governo.
O presidente também pediu aos movimentos negros que cheguem a um acordo sobre a proposta do Estatuto da Igualdade Racial, que segundo ele está parada na Câmara por causa de divergências entre os movimentos.
– Se divergirmos, nossos adversários vão sair vitoriosos. Quanto mais divergirmos, mais nossos adversários vão ter vitórias – disse o presidente.
“Nós todos vamos completar 100 anos, como o Oscar Niemeyer, e o estatuto ainda estará no Congresso Nacional
A Agenda Social Quilombola tem medidas para melhorar as condições de vida de 850 mil quilombolas e prevê um conjunto de projetos e ações voltados às comunidades remanescentes de quilombos. A meta é atingir 1.700 comunidades – localizadas em 22 estados, 330 municípios e 128 territórios rurais – beneficiando 850 mil pessoas, cerca de 50% do universo de 1,7 milhão de quilombolas.
O presidente também cobrou consenso ao movimento negro para que o Estatuto da Igualdade Racial, em tramitação no Congresso, possa ser aprovado. O presidente pediu maturidade política ao movimento.
– Ou vocês se convencem que o Estatuto da Igualdade Racial será aprovado quando o movimento tiver uma única proposta ou nós todos vamos completar 100 anos, como o Oscar Niemeyer, e o estatuto ainda estará no Congresso Nacional – disse Lula.
Os investimentos para os Quilombolas estão estruturados em quatro eixos: acesso à terra, infra-estrutura e qualidade de vida, inclusão produtiva e desenvolvimento local e cidadania. Segundo a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Lula vai receber de crianças e adolescentes quilombolas uma carta formulada durante o 1º Encontro Nacional Quilombinho, ocorrido em julho passado, ocasião em que foram discutidos temas como educação, saúde, esporte, lazer, segurança alimentar e a representação infantil em instâncias políticas.
Data da morte de Zumbi é feriado em 267 municípios Nesta terça-feira é feriado em 267 municípios de 12 estados do país, segundo levantamento da Seppir. A data lembra a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra à escravidão, assassinado em 20 de novembro de 1695. No ano passado, o número de municípios que instituíram o 20 de novembro como feriado era menor: 225. A ministra Matilde Ribeiro, da Seppir, ressaltou a importância de os brasileiros conhecerem a contribuição do negro para a formação do país.
– O dia 20 de novembro tem a marca de um processo de luta muito antigo que vem desde a escravidão e está presente nos nossos dias atuais – disse a ministra em entrevista à Radiobrás. – O que considero muito importante para nós brasileiros – sejamos negros, brancos, indígenas – é que possamos perceber a importância da contribuição que os negros e os indígenas trouxeram aos demais grupos raciais no Brasil e que essa contribuição tem que ser cada vez mais valorizada – completou.
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