Deputado cria polêmica e fica contra terra para quilombolas
Autor de um projeto de decreto legislativo que poderia anular a atual regulamentação das titulações de terras quilombolas, bem como o decreto presidencial sobre o tema, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) nega que sua proposta tenha objetivos racistas e afirma que, se o país tem uma dívida histórica com os negros, também tem com outros grupos que vieram compor a população brasileira, como os italianos.
– O Brasil tem uma dívida, por exemplo, com os italianos pobres que vieram da Itália. Eles praticamente foram deportados de lá e ninguém está reivindicando nada. Para citar, meu avô veio da Itália e na certidão de nascimento dele está com pai ignorado, porque ele era o pobre da família e foi obrigado a vir para cá. Para não reivindicar herança, colocaram pai ignorado, porque ele poderia ir lá reivindicar a herança – afirmou o deputado.
Colatto completou:
– Se nós formos começar a discutir raça, etnia e origens, tem muita coisa. Claro que o negro veio preso, mas os outros também não queriam vir. Temos que ver quem é menos ou mais brasileiro nesse processo.
Colatto reconhece a dívida histórica com os negros, mas diz que ela é responsabilidade do Estado brasileiro:
– É uma dívida de governo e não de proprietário particular. Essa é a diferença. O Brasil tem essa dívida, então é uma política social que o governo tem que fazer e tem que bancar isso. O que está se fazendo hoje é que o governo está tirando os proprietários legítimos – disse.
Ele não acredita que sua proposta possa ser considerada racista:
– Racismo é fazer esse decreto. Isso é criar conflito racial, porque hoje todo mundo convive harmonicamente, e é isso que eu quero: paz no campo. Se você obedecer a Constituição Federal, que diz que é para demarcar as terras que já ocupam, não tem briga com ninguém – insiste.
A experiência do deputado de contato direto com a questão quilombola se relaciona à comunidade de Invernada dos Negros, em Campos Novos (SC). Lá, segundo ele, a comunidade ocupa, atualmente, 414 hectares e reivindica ao todo 8 mil hectares, área em que existem estradas, indústrias e pequenos produtores instalados há décadas.
– Se criou um conflito. São 80 famílias de brancos e 30 de quilombolas, e convivem pacificamente. Hoje não se dão mais e não se falam, não vão na mesma igreja e não jogam futebol junto. Isso criou conflito racial.
Colatto reconhece que pode haver situações, Brasil afora, em que comunidades quilombolas foram expulsas ou coagidas a deixar suas terras, mas acredita que isso só deverá ser discutido quando o artigo constitucional sobre o tema for debatido no Congresso, depois que o decreto presidencial sobre o tema for anulado.
– Eu não vou discutir o mérito. Eu estou discutindo a maneira como está sendo feito o procedimento de se definir as terras através desse decreto. Agora, cada caso é um caso. Tem as verdades e as mentiras dos dois lados. Eu vou pelo que é certo – diz ele.
< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>