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Transposição do São Francisco atingirá comunidades tradicionais

As comunidades camponesas e a transposição

Derli Casali*

Todos os grandes projetos pensados dentro do projeto da transposição levam em conta a vontade do capital, os interesses econômicos. Nem o governo e nem as elites que estão lutando para que aconteça a transposição a todo custo, estão se dando conta que o território Nordestino tem uma história construída por povos, por milhares de comunidades camponesas que se afirmam por meio de seus modos de vida, que produzem e reproduzem suas relações. São objetividades e subjetividades que estão sendo desrespeitadas por projetos que defendem um modelo de desenvolvimento puramente excludente.

Sabemos que o conjunto das comunidades camponesas que estão presentes no bioma caatinga, que, independente da presença do Estado controlado pelas elites agrárias, estão se afirmando por entre as frestas dos latifúndios para se garantirem como gente, produzindo comida.

O projeto de colonização que na atualidade recebe o nome de agronegócio, de PAC, foi pensado para cumprir a lógica do capital internacional, por isso fora designado ao território brasileiro, as elites e aos governantes, o papel de não permitir que outro projeto de sociedade fosse pensado para o Brasil. Em função desta compreensão atrasada, de não deixar o povo construir o Brasil Nação, ainda não conseguimos resolver duas questões básicas: a ocupação democrática do território e o respeito as identidades dos diferentes povos que constroem as riquezas deste Brasil, mas vivem na mais angustiante miséria.

Cabe ao Estado Brasileiro reconhecer que povos indígenas, povos quilombolas, gente deste imenso Bioma chamado Caatinga, com quase 750 mil quilômetros quadrados, estão querendo resolver as questões agrárias, de territorialidades, de construção de identidades, de manifestação de seus sentimentos, dando vida ao território por meio de um modelo de produção, de mercado, a partir de seus saberes, de seus conhecimentos. Se isso não é incorporado na academia, nas administrações públicas, nada avança. Chegou à hora de o povo brasileiro sentir-se parte de um projeto. Não pode continuar sendo platéia O projeto de transposição está vindo de cima para baixo, desrespeitando comunidades indígenas, quilombolas e demais modos de vida camponeses que estão no território onde o governo, pensa em aplicar 6.6 bilhões de reais para implantar o grande capital e favorecer a exportação de tudo aquilo que tanto interessa aos paises do Norte, principalmente água.

Ao invés do governo ficar se deliciando com o PAC, com a transposição para colocar terra e água nas mãos dos ricos, deveria estar falando num sério projeto de reforma agrária, de políticas agrícolas, de educação, de saúde, de moradia, de transporte, de lazer e cultura, ou seja, de inserção do povo ao seu território.

Está fazendo exatamente o inverso. Até hoje o Sertão Nordestino serviu para produzir mão de obra barata para o Sudeste Brasileiro, doravante é o próprio território que, segundo os estudiosos pouca terra pode ser trabalhada, que está sendo colocado a serviço das elites. Até quando o Nordeste continuará sendo visto com o olhar tão brutal do colonizador?

Derli Casali – Movimento dos Pequenos

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.> 

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