O Globo responde a artigo que analisa sua matéria sobre Marambaia
O Globo responde
Paulo Motta (*)
Cara Helena Costa, tendo em vista seu artigo no Observatório da Imprensa, acredito que sejam necessárias algumas ponderações que, prometo, ao contrário de suas afirmações, serão breves e apenas substantivas.
A cobertura do Globo em relação à questão Quilombolas-Marambaia não começou na recente edição, que originou seu artigo. Desde 2002, o jornal vem publicando matérias sobre o tema. E sempre sobre o ponto de vista dos reivindicantes. Não que isto seja jornalisticamente recomendável, mas simplesmente não tivemos acesso ao ponto de vista da Marinha.
A primeira delas teve destaque tanto na primeira página, com a foto de um menino numa praia paradisíaca, informando que a sobrevivência dele e de todos os quilombolas da região corria grave risco, pois a Marinha ameaçava despejá-los, quanto numa página interna inteira com o título – Uma comunidade ameaçada na Marambaia – e subtítulo –Ministério Público denuncia a Marinha por querer expulsar da ilha 90 famílias de descendentes de escravos.
Outras muitas matérias se seguiram: todas mostrando o ponto de vista de quilombolas, das ONGs envolvidas, do Ministério Público e do Incra. Alertamos, inclusive, que a Marinha estava impedindo a entrada de funcionários do Incra na região.
Há pouco tempo fomos contatados pela Marinha, que queria expor seus pontos de vista. Daí resultou a edição de que trata seu artigo. Não manipulamos informação, não ajudamos a construir estereótipos e não reativamos preconceitos. Tivemos, sim, a necessária isenção jornalística de, desta vez, publicar o que defende o outro lado da questão.
As afirmações da Marinha, obviamente, não são de nossa responsabilidade, bem como não eram as dos quilombolas, das ONGs, do MP e do Incra. E, pelo que entendi, a Marinha reclama que o número de reivindicantes é muito maior do que o de moradores da região: seriam já mais de mil e cada um reivindica uma área equivalente a mais de 70 Maracanãs.
Quanto ao processo de favelização, é fato que áreas ocupadas por instalações militares (aqui no Rio, além da Marambaia, existem outras como Gericinó, o terreno da Marinha na Praia Rasa entre Búzios e São João da Barra etc.) têm estado livres da favelização e da especulação imobiliária. Desconsiderar a realidade da ameaça de favelização em áreas públicas no Rio de Janeiro é sonegar uma informação relevante ao leitor.
Acreditamos que o leitor do Globo teve acesso a todos os pontos de vista contidos nesta questão e tem agora condições de, soberanamente, formar a sua própria opinião.
Espero sinceramente ter contribuído de alguma forma com as minhas ponderações. Quem se dispõe a fazer este trabalho tão importante que é analisar a mídia deve se preocupar em ter um mínimo de informações sobre o conteúdo do que vai analisar – e, com este objetivo, encaminho em PDF as cópias das reportagens anteriores a que faço referência.
Clique aqui para fazer download das reportagens em pdf (os arquivos estão zipados em um só arquivo).
(*) Editor de Rio de O Globo
Leia o artigo ao qual O Globo responde:
RJ – O Globo e Marambaia: manipulando informação e reafirmando preconceitos
Leia as matérias do Globo sobre a Ilha da Maramabaia:
RJ – O Globo contesta direito à terra de quilombolas da Marambaia
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