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Globo questiona identidade quilombola de outra comunidade

Quilombos reais x quilombos suspeitos

Nos últimos quatro anos, mais de mil comunidades receberam, do governo, o reconhecimento oficial de que são remanescentes de quilombos. É uma forma oficial de reparar injustiças históricas, de proteger a riqueza cultural dessas comunidades.

Mas a forma de concessão dos certificados tem estimulado, também, situações altamente suspeitas. Veja na reportagem de Júlio Mosquéra.

Brejão dos Negros era um típico povoado do interior de Sergipe até meados do ano passado, quando ganhou o status de quilombo. Mesmo sem apresentar documentos históricos e diante da surpresa dos moradores mais antigos.

“Nunca ouvi falar, minha mãe nunca disse, não”, disse uma moradora. “Nada, nada, meu pai era vaqueiro”, completou outra. “Minha mãe morreu com 70 anos e nunca falou. Nem meu pai”, garantiu um morador.

Foi padre Isaías quem conseguiu o título de quilombo para Brejão dos Negros. Bastou coletar algumas assinaturas e entregá-las à Fundação Palmares, do Ministério da Cultura.

Padre Isaías tem uma justificativa para o que chama de ‘falta de memória’ dos moradores, que deveriam se declarar herdeiros dos quilombos. “A opressão foi durante muitos anos, tão grande que até hoje é ofensivo dizer que é negro”.

No Parque Nacional Chapada dos Veadeiros vive a maior comunidade quilombola do Brasil. São mais de cinco mil descendentes de escravos que foram trazidos para a região há 300 anos e obrigados a trabalhar na exploração do ouro.

O turismo nas cidades de Cavalcante e Teresina de Goiás se baseia na história dos Kalunga. “De cada dez visitantes que chegam a Cavalcante, no centro de atendimento ao turismo, sete perguntam sobre a comunidade Kalunga”, revela o secretário de Turismo da cidade, José Reinaldo.

Separam a cidade de Cavalcante do povoado dos Kalunga 28 quilômetros de uma estrada de terra. Os tataravós de Sirilo dos Santos Rosa viveram na região, onde nasceu o pai dele e Sirilo criou os 11 filhos.

“Eu incentivo muito os meus colegas e familiares para que não saiam da cidade, se unir aqui e chamar o reforço para cá”.

Dona Getúlia fez o primeiro contato com a civilização quando tinha 12 anos. “É aqui que a gente viveu sem depender do dinheiro”.

A briga dos Kalunga vem de longe e eles ainda não têm a posse da terra. Já a caminhada de Brejão dos Negros é recente e cheia de inconsistências. Para a Fundação Palmares não há diferença entre os dois casos.

Brejão dos Negros se soma a outras 1.170 comunidades que nos últimos quatro anos receberam da fundação o status de quilombo, sem precisar comprovar a história. Facilidade garantida por um decreto assinado pelo presidente Lula de 2003.

Depois que a Fundação Palmares concede o certificado, o Incra é o órgão que remarca as terras e entrega o título de posse às comunidades. Mas o presidente do instituto assegura que será rigoroso: 11 certificados expedidos pela fundação foram cancelados por irregularidades.

“Nós estamos coibindo qualquer outra lista falsa ou pressões políticas. Vamos seguir o rigor técnico. Tem conflito? Tem. O Estado precisa decidir”, declarou Rolf Hackbart, presidente do Incra.

 

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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