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Votorantim e Aracruz reclamam de restrições do zoneamento ambiental

ONGs podem ingressar com ação civil pública para garantir zoneamento ambiental  

 

A divulgação na imprensa de que a governadora Yeda Crusius  teria a intenção de passar uma borracha no zoneamento ambiental por meio de um decreto provocou a reação de ONGs ambientalistas. Hoje pela manhã, numa exposição do estudo por técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), o professor Ludwig Buckup anunciou que a ONG Igré, da qual faz parte, vai ingressar com uma ação civil pública, com o apoio de outras organizações, para garantir na Justiça que o zoneamento seja encaminhado ao Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), caso tal decreto realmente ocorra.


No Consema o zoneamento será avaliado, por representantes do governo, ONGs e universidades, e ajustado, se for o caso, para servir de base ao licenciamento das atividades de silvicultura no Rio Grande do Sul. Importantes empresas do setor – Votorantim Celulose e Papel, Stora Enzo e Aracruz – anunciaram grandes projetos para o Estado, com plantas industriais, inclusive, mas reclamam que o zoneamento impôs muitas restrições, e as duas últimas ameaçaram cancelar os investimentos, semana passada, caso o documento não seja revisto.


Professor titular da pós-graduação em Biologia da Ufrgs e doutor em ciências naturais pela Universidade de Tuebingen (Alemanha), Buckup disse que examinou o estudo “página por página” e aprovou o trabalho. “Esta apresentação deixou bem claro como foi bem feito, pela qualidade das fontes, a riqueza da bibliografia, os levantamentos e os critérios adotados. Se existem restrições (à silvicultura), devem ser acatadas”, afirmou. Ele criticou o governo anterior, que acenou para as empresas “como se o Rio Grande do Sul fosse terra de ninguém”.


Demissão do presidente

 

Enquanto os técnicos que coordenaram o estudo faziam a apresentação, um cochicho percorreu o auditório do Semapi, lotado de ecologistas, servidores, jornalistas e parlamentares – os deputados estaduais Elvino Bohn Gass (PT) e Raul Carrion (PC do B). Era a notícia de que o presidente da Fepam, Irineu Schneider, tinha pedido demissão em função das pressões das empresas e do próprio governo. Chegaram a anunciar ao microfone que a secretária do Meio Ambiente, Vera Callegaro, também havia sido demitida, o que não se confirmou até o início da tarde.


Ao final da exposição de seus colegas, o presidente da Associação dos Trabalhadores da Fepam, Antenor Pacheco, fez um pronunciamento veemente: “Nós, servidores da Fepam nos sentimos muito preocupados com os rumos da política ambiental no Rio Grande do Sul, porque, se no Governo passado tivemos quatro secretários da Sema em quatro anos, com o governo de Yeda (Crusius), em quatro meses vamos ter o quarto presidente da Fepam”, lamentou.


“Um presidente por mês é quase o tempo médio que a nossa equipe técnica, com dois servidores, está levando para manter em dia os pedidos de licenciamento”, continuou Pacheco. Com a informação de que a secretária havia caído, acrescentou: “A queda de ambos tem relação com isto que estamos discutindo aqui” – o zoneamento ambiental.

 

Unidades de Paisagem Natural


O chefe de qualidade ambiental da Fepam, Manoel Eduardo de Miranda Marcos, a arquiteta Ana Rosa Bered, a geógrafa Lílian Waquil Ferraro, e a engenheira Florestal Sílvia Mara Pagel, explicaram que no zoneamento o Estado foi dividido em 45 Unidades de Paisagem Natural (UPNs), que são áreas geográficas de características físicas, como o relevo e vegetação, homogêneas. Numa área assim, a resposta do ambiente ao plantio de eucalipto é idêntica em toda a sua extensão, ao contrário das bacias hidrográficas – como sugerem alguns críticos do zoneamento – que apresentam características físicas muito heterogêneas, justificaram.

 

As UPNs receberam a classificação de alta, média ou baixa restrição para a silvicultura. A área de alta restrição corresponde a 25% do território do Estado e compreende 17 das UPNs, onde cada propriedade pode ser ocupada somente de 0,2% a 2% com essa atividade. A área de média restrição também soma 25% do território gaúcho em 16 das 45 UPNs, onde de 25% a 50% de cada propriedade pode ser ocupada com o plantio eucalipto (conforme as condições específicas de cada gleba). Já a área de baixa restrição significa 50% do RS, em 12 UPNs, onde 50% das terras das propriedades podem ter silvicultura.

Foram aplicados critérios como a existência de Unidades de Conservação (federais, estaduais ou municipais), a presença de espécies de fauna e flora criticamente ameaçadas de extinção (entre eles os últimos trechos de campos nativos), a disponibilidade hídrica e o potencial risco de deficiência hídrica no verão, a fragilidade dos solos, a análise sócio-econômica, o registro de territórios indígenas e quilombolas, entre outros.

 

 

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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