Quilombolas e lenhadores negam ter ateado fogo nos eucaliptos
Quilombolas e lenhadores negam ter ateado fogo nos eucaliptos do norte
Flávia Bernardes
Nós não colocamos fogo em nada. Não faríamos isso, até porque estamos aguardando um consenso com a empresa. Precisamos desses resíduos pra sobreviver, queimá-los seria o mesmo que queimar nosso sustento, rebateu Jorge dos Santos sobre a queimada que, desde a última sexta-feira (23),consome os eucaliptos da Aracruz Celulose no norte do Estado.
Segundo os quilombolas, essa pode ser uma manobra para incriminar o movimento, até para que não haja um consenso entre as partes e a Aracruz continue descumprindo o convênio. O fogo se alastrou rapidamente, e não há provas de envolvimento dos quilombolas no episódio.
Segundo eles, uma reunião entre a Fundação Palmares e a Aracruz Celulose foi realizada nesta segunda-feira (26), na sede da empresa, mas os resultados ainda não foram divulgados aos catadores de resíduos. Os quilombolas já desocuparam e só aguardam a decisão da reunião para definirem se continuam ou não a cata de resíduos de eucalipto.
A cata de resíduos do eucalipto faz parte de um convênio entre os quilombolas catadores de resíduos e a transnacional, autorizando a cata dos gravetos e defindo que estes não teriam menos de 7 centímetros de diâmetro, mas isso não vem acontecendo.
Atualmente, os restos de eucalipto têm se tornado cada vez mais finos e insuficientes para o sustento da comunidade. Lembram eles que a empresa está enchendo caminhões com os resíduos – previstos para serem catados por quilombolas – e vendendo à terceiros.
O convênio entre as partes existe há quatro anos e os quilombolas lucravam em média R$ 300 a cada dois meses com a cata de resíduos. Eles lembram que sem os resíduos as comunidades começam a passar necessidades, pois não possuem mais terras para plantar.
Estas comunidades estão em luta para recuperar o seu território no Espírito Santo, o que é assegurado pelo decreto 4887/2003. Além da Aracruz Celulose, empresas que produzem açúcar e álcool e fazendeiros ocupam o território quilombola no Estado. Com isso, as comunidades não têm terra para plantar e acabam trabalhando na cata de resíduos de eucalipto para a obtenção de carvão.
Os quilombolas farão uma assembléia ainda nesta segunda-feira (26) para discutir a postura da empresa com a comunidade, além dos termos usados por ela para classificar o movimento realizado desde a última terça-feira (20). Segundo Domingos Firmiano, também conhecido como Xapoca, do movimento quilombola, a empresa está tentando descaracterizar a comunidade afirmando que não são quilombolas.
Os quilombolas aguardam agora definição da reunião entre a Fundação Palmares e a empresa e alguma satisfação sobre as acusações de terem ateado fogo nos eucaliptais.
Muito fácil pra algum poderoso e que está descumprindo um convênio acusar com o objetivo de se safar das responsabilidades. Eu quero ver as provas. Quero ver como vão fazer para incriminar gente inocente, desabafou Xapoca.
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