Aracruz é ocupada por agricultores e quilombolas
Agricultores e quilombolas ocupam área da Aracruz em Conceição da Barra
Cerca de 40 manifestantes da Associação de Pequenos Agricultores e Lenhadores de Conceição da Barra, no Norte do Estado, protestaram em frente à sede da Aracruz Celulose no município nesta sexta-feira. Durante o protesto, funcionários foram impedidos de entrar e sair da empresa entre às 10h30 e às 15h. Os manifestantes reivindicam que a multinacional deixe pontas de madeiras maiores para que possam fabricar carvão e chegaram a colocar vários troncos no portão da companhia.]
A decisão de protestar em frente a Aracruz se deu após a chegada de um oficial de Justiça impondo a desapropriação das terras da empresa, tomadas pelos quilombolas na última segunda-feira, em Conceição da Barra. Durante toda a semana, 60 representantes da comunidade Quilombola se apropriaram de uma grande área florestal e impediram que 200 funcionários da Aracruz Celulose trabalhassem no local. Além deles, a empresa contava com 31 tratores de colheitas e 15 tratores carregadores.
Segundo o presidente das comunidades negras rurais e remanescentes de quilombos do Norte do Espírito Santo, Domingos Firmiano dos Santos, existe um acordo assinado entre os Quilombolas e a Aracruz, em reunião que contou com as presenças do Ministério Público Federal (MPF), da Fundação Palmares e do Direitos Humanos, na qual a empresa se compromete a deixar pontas de madeiras com 7 cm de diâmetro. Atualmente, a Aracruz tem deixado pouca madeira e com o diâmetro de 2cm.
A Aracruz Celulose declarou que o acordo com as comunidades negras rurais e remanescentes de quilombos já expirou há quase dois anos. Desde então, a empresa tem deixado os Quilombolas pegarem todos os restos e pontas de madeira deixados nas florestas para que possam produzir carvão, mesmo que isso prejudique o solo. No entanto, a Aracruz ressalta que há tempos vem informando as comunidades de que as pontas de madeiras serão cada vez menores. Com a maior tecnologia utilizada pela empresa, a madeira é cada vez mais aproveitada e, num futuro próximo, não haverá mais sobra de eucaliptos.
O gerente regional florestal da Aracruz, José Maria Donatti, informou que a empresa tem tentado ajudar as comunidades locais a descobrir e desenvolver novas fontes de renda. Ele explica que a madeira é uma necessidade da Aracruz e que ela está sendo cada vez mais aproveitada. Donatti salientou que a Aracruz pensa em desenvolver atividades culturais, industriais e de plantio para as comunidades do entorno.
Donatti alega que a Aracruz deixou de colher 5 mil metros cúbicos de madeiras por dia desde que a área foi ocupada. A empresa calcula um prejuízo de mais de R$ 2 milhões e ressaltou que 45 focos de incêndio foram detectados na floresta nesta semana. Para ele, todos foram provocados pelos quilombolas. Bombeiros estão espalhados por toda a região tentando controlar o fogo.
Os funcionários da sede empresa devem retornar ao trabalho neste sábado pela manhã. No entanto, os tratores e os trabalhadores que costumam ir para a floresta só devem retornar na próxima semana, quando houver uma decisão definitiva sobre o caso.
Domingos Firmiano dos Santos não se intimida e diz que os Quilombolas têm que resgatar a própria cultura. Neste sábado, por volta das 10h, haverá uma assembléia para que eles possam discutir idéias e definir qual será o próximo passo a ser tomado.
O representante das comunidades negras rurais e remanescentes de quilombos do Norte do Espírito Santo ressalta que eles vêm sofrendo com o impacto causado pela monocultura do eucalipto há mais de 40 anos. Antes havia 2 mil comunidades, com 10 mil famílias. Hoje restaram 35 comunidades, com cerca de 1,3 mil famílias.
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