Comunidades quilombolas comemoram Carnaval
Carnaval também é comemoração e alegria nas comunidades quilombolas
Por Marília Matias de Oliveira
Anos atrás, podia até acontecer de o Carnaval passar em branco nas comunidades remanescentes de quilombos. Mas hoje algumas delas estão resgatando essa festa como um meio de fortalecer suas tradições. É o caso da comunidade de Largo da Vitória, localizada no município de Riacho de Santana, próximo a Bom Jesus da Lapa (BA). Formada por aproximadamente 200 famílias, Largo da Vitória é uma comunidade quilombola urbana que recebeu a certidão de auto-reconhecimento da Fundação Cultural Palmares/MinC em 2005. Nesse mesmo ano, a comunidade fez a sua primeira experiência de organizar uma festa carnavalesca. E agora em 2007, pela segunda vez, está preparando uma festa com o verdadeiro cheiro do carnaval, como diz Rosália Silva Santos, presidente da Associação Quilombola do Largo da Vitória. Estamos promovendo essa festa como resgate cultural, o carnaval de rua, com fantasias, música com instrumentos de sopros e marchinhas carnavalescas, conta Rosália. Ela diz que em 2006 a comunidade não fez o carnaval por falta de recursos, mas este ano vão custear os festejos com o que arrecadarem pela venda de camisetas. O que não é correto, porque no carnaval é pra se usar fantasias, comenta. A festa promete ser grande e muito animada. Grupos musicais da própria comunidade vão se apresentar na abertura da festa. O grupo de dança Ibizza, formado por três jovens da mesma família, vai apresentar coreografias de vários ritmos; também vai tocar a banda Levada Axé, composta de meninos negros da comunidade; e as marchinhas vão ficar por conta da Velha Guarda, acompanhada da Orquestra Filarmônica de Bom Jesus da Lapa, com vários instrumentos de sopro, como saxofone, trompete e trompa. Rosália conta que a festa vai envolver não só a comunidade, mas a cidade toda e outras comunidades próximas. Vamos conversar com o prefeito pra ver se há possibilidade de transporte para o pessoal das comunidades quilombolas, diz ela. A expectativa é de que seis mil pessoas participem. Haverá matinês para as crianças e os adultos terão a noite e a madrugada inteira pra festejar, até a quarta-feira de cinzas. O sabor das comidas e bebidas típicas também vai temperar o carnaval do Largo da Vitória: feijoada, vaca atolada, vatapá, cachaça e caipirinha.
Mas nem só de samba e marchinha é feito o carnaval dos quilombolas. Na comunidade de Conceição das Crioulas, localizada no município de Salgueiro, em Pernambuco, o ritmo favorito parece ser o forró. Vamos ter samba e forró, diz Antônio Francisco de Oliveira, secretário-executivo da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas. Ainda não está confirmado se a tradicional banda de pífanos vai tocar na festa. A banda é composta por quatro quilombolas que tocam zabumba, caixa e dois pífanos, instrumentos de sopro, que antigamente eram fabricados pelos próprios quilombolas. A banda veio junto com a história da comunidade, conta Antônio. Conceição das Crioulas, que possui cerca de 800 famílias, é uma comunidade rural e foi titulada no ano 2000. Pela segunda vez, eles estão organizando a festa de carnaval e querem fazer desfile com dois blocos. A idéia de vender camisetas, como forma de angariar recursos, também foi adotada pela comissão que organiza o carnaval. Antônio espera que 200 pessoas participem dos festejos que acontecem de sábado à madrugada de quarta-feira. Tanto Rosália como Antônio pensam que o carnaval é uma forma de resgatar as tradições culturais de suas comunidades. O recurso conseguido com a venda das camisetas ou da comida será todo em prol da festa e da manutenção das tradições dos quilombolas. Muitos iam pra cidade brincar carnaval, e a gente achou interessante estar fazendo algo na comunidade. Ano passado deu certo e este ano a gente quer reforçar, diz Antônio. Seja forró ou samba, quem participar do carnaval dos quilombolas vai poder conhecer a alegria e originalidade do povo negro.
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