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Áreas de quilombolas sofrem degradação

Denúncia dos remanescentes de escravos já chegou ao Ministério Público revelando um cenário de desmatamento e alteração dos campos nativos

A ação de fazendeiros ameaça os pantanais dos rios Guaporé, Alegre, Barbado e Traíras, na região de Vila Bela da Santíssima Trindade (540 quilômetros a noroeste de Cuiabá). Além da relevância ambiental, as áreas compõem o patrimônio histórico e cultural de vários grupos remanescentes de quilombos. Denúncia encaminhada pela Associação Quilombola Acorebela ao Ministério Público relata um cenário de desmatamento e alteração crescente dos campos nativos. Lagoas e baías, fonte de peixes para as populações tradicionais, estariam sendo drenadas para implantação de pastagens. “Como vamos voltar a viver nas nossas antigas terras, sem as matas e o cerrado (…) como vamos caçar nossa comida ou pescar nossos peixes, se as fazendas estão destruindo tudo a nossa volta?”, diz um trecho do documento, encaminhado em dezembro ao promotor Douglas Strachicini, da comarca local. Em Vila Bela, de acordo com recente levantamento do Ministério do Meio Ambiente, existem quatro comunidades quilombolas reconhecidas: Manga, Boqueirão, Boa Sorte e Retiro. Estes grupos reúnem cerca de 400 famílias de remanescentes. “Nosso povo morou dezenas de anos nesta região, vivendo de roças comunitárias, da coleta de diversos produtos das matas e cerrados nativos e se alimentando das criações, da caça e principalmente da pesca”. O processo de reconhecimento das áreas pelo governo federal é complexo (ver matéria). E, não raro, conflituoso. Somente o relato das disputas recentes pelas terras da região conduz a quase cinco décadas de grilagem e violência. “Desde o final da década de 1960, as Comunidades Rurais Negras de Vila Bela começaram a sofrer pressão explícita de grileiros de terras”, diz um morador do município, que preferiu não se identificar. “Muitas comunidades foram desfeitas nesta época”. Na denúncia, os quilombolas relatam que a situação se agravou a partir a década de 1980. “Houve uma grande grilagem de terras nesta mesma região e nossos parentes mais velhos foram obrigados a abandonar nossas comunidades por imposição de jagunços armados”. As áreas das comunidades foram substituídas por grandes fazendas para a criação de gado. Nos últimos anos, de acordo com a denúncia, o fortalecimento das organizações que reúnem os quilombolas fez os atuais ocupantes das terras iniciarem um processo acelerado de descaracterização do ambiente. “Estamos percebendo que estas pessoas de fora que vivem nas nossas antigas terras, estão destruindo nossa natureza, de todas as formas e todos os dias”, diz o documento. Queremos que esta destruição pare agora e que estas pessoas sejam obrigadas a reconstruir nossa natureza”.

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