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Quilombolas de Manival buscam alternativas

NAS TRILHAS QUILOMBOLAS DE MANIVAL

PAULO MELO SOUSA

De lancha ou de barco, a partir do Terminal Hidroviário da Praia Grande, em São Luís, Alcântara pode ser facilmente alcançada em mais ou menos uma hora. Da sede da cidade-patrimônio, chega-se por via rodoviária ao povoado quilombola de Manival em apenas 20 minutos. A velha estrada de asfalto está mais esburacada do que tábua de pirulito, tendo se tornado pura piçarra na maior parte do trecho, e o vivente é obrigado a engolir meio quilo de poeira ao longo do caminho. Logo na entrada do lugarejo, que possui 105 famílias, o ambiente rural se descortina, com casas de taipa cobertas de palha, sendo que muitas delas são construídas à base de adobe, produzido no próprio local, numa saudável adaptação ao clima do município, que suporta a inclemência do sol durante a maior parte do ano. Manival não difere da maioria dos povoados alcantarenses. As casas se aglomeram em torno do eixo de uma única rua, sem pavimentação. Algumas árvores, principalmente mangueiras, são encontradas à porta das residências, e os quintais são amplos, com uma diversidade de plantas geralmente distribuídas de forma aleatória. São pés de coco, ingá, juçara, buriti, tamarindo, siriguela, limão, jaca, goiaba, dentre outros. Porém, além dos babaçuais, os pés de bacuri estão espalhados por todos os lugares, nascendo de forma bastante natural no lugar. Os problemas também são os mesmos encontrados em outros locais: não há Posto de Saúde, não existem farmácias, encontra-se apenas um telefone público, que geralmente apresenta problemas, e o abastecimento de água, obtido por uma bomba hidráulica, está comprometido pelo óleo do motor do poço artesiano, que se infiltrou pelo solo e poluiu o lençol freático. Não há saneamento básico, o povoado possui uma escola e o comércio local não supre a demanda da população. Manival reproduz o ambiente de comunidades quilombolas espalhadas pelo país, onde as políticas públicas ainda estão longe de chegar. A economia do povoado gira em torno da agricultura de subsistência, e nas roças se planta a mandioca, o milho e o arroz. Em certo trecho do lugar, um igarapé fornece algum peixe, e camarão bem miúdo, pois existe a prática da pesca predatória, o que prejudica o crescimento do crustáceo. Para complementar a renda, é comum a prática do extrativismo vegetal, tais como o coco babaçu, para fabricação de óleo, a juçara e buriti; alguns moradores ainda trabalham na extração de pedra, o que já provocou dano ambiental. Apesar das dificuldades, porém, um grupo de pessoas da comunidade criou a AJOQUIMA – Associação de Jovens Quilombolas de Manival, fundada em junho do ano passado, e seus integrantes têm desenvolvido trabalhos visando enfrentar os obstáculos que impedem o desenvolvimento da comunidade. Um dos problemas surgiu a partir de um crime ambiental cometido por um proprietário de terras, que se instalou no local. Em caminhada de cerca de 15 minutos, chega-se ao local, a partir do povoado. Conforme informa Neide, “aqui neste lugar, que antes era conhecido como Palmeiral, era tudo mata fechada, e existia uma lagoa, até há cerca de 10 anos atrás; a gente vinha aqui para pescar. Foi quando chegou aqui um senhor, conhecido como Celso Ceará (ex-funcionário da Aeronáutica) que foi devastando tudo para plantar capim para criação de gado. A lagoa era formada com a água que vinha do rio do Cipó, mas com a devastação ali secou tudo, o rio encontrou outro caminho, sorte que ainda sobreviveu, pois vai dar no rio do Outeiro, mas na lagoa os peixes que tinham lá morreram, sobrando no lugar apenas um trecho enlameado”. No que restou da lagoa, alguns peixes agonizantes buscavam sobreviver numa lâmina d’água de apenas 10 centímetros de fundura. O grileiro ainda proibiu a comunidade de pegar o babaçu e a juçara que existiam em grande quantidade no local. A quantidade de camarão, que há cerca de 20 anos atrás era grande, diminuiu bastante. Atualmente, a utilização de escoras de puçás captura o crustáceo ainda miúdo, não permitindo o crescimento do animal, o que vem prejudicando o sustento das famílias. Foi a exploração predatória que levou os moradores à extração de pedras. Uma fonte de renda que pode se tornar uma alternativa tem sido estimulada no local; trata-se do artesanato à base de fibra de buriti, além da utilização de sementes nativas para a fabricação de colares e pulseiras, dentre outros objetos. Apenas uma moradora, dona Eliete, exercita a profissão.

A AJOQUIMA, que conta atualmente com cerca de 40 integrantes, está viabilizando a implantação de um projeto que reúne as Quebradeiras de Coco do povoado, e tem por objetivo a utilização de todo o potencial econômico oferecido pelo babaçu, tais como a utilização do mesocarpo e do óleo, chegando até à fabricação de sabão e sabonete. O projeto foi viabilizado pelo MABE – Movimento dos Atingidos pela Base Espacial, e implementado pelo MMA – Ministério do Meio Ambiente. A ação dos jovens já surtiu efeito, e houve uma diminuição significativa da violência antes observada no local.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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