Aracruz Celulose usa revistas em novas propagandas enganosas
Novas propagandas enganosas estão sendo inseridas pela Aracruz Celulose em revistas como Carta Capital e Piauí. Aos leitores destas publicações, a empresa se vende, uma vez mais, como sustentável. Os novos anúncios são feitos à medida que vencem os prazos dados pelo governo federal para decidir sobre a questão das terras indígenas no Espírito Santo.
Contrariando informações científicas, algumas delas do próprio naturalista Augusto Ruschi, que há décadas alertava sobre os danos da eucaliptocultura, a Aracruz Celulose publicou em página dupla, na edição de outubro deste ano da revista Piauí, que entende um bocado deste negócio chamado eucalipto.
Em todo o Espírito Santo, particularmente no município de Aracruz e no Sapê do Norte, território formado pelos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, todos no norte, córregos e até rios secaram após os plantios de eucalipto. A voracidade da planta é cientificamente confirmada: suas raízes se aprofundam até encontrar água, e atingem até mesmo o lençol freático. Cada árvore consome 30 litros de água por dia.
Mas, na revista, a propaganda enganosa da Aracruz Celulose diz: Muitos afirmam que o eucalipto deixa o solo muito seco. Mas a pesquisa científica mostra que a quantidade de água consumida pelo eucalipto não é diferente da consumida por qualquer outra árvore de floresta nativa, desde que adotadas as técnicas corretas de cultivo.
E sobre a biodiversidade, o que diz a empresa na sua propaganda? Alardeia: Outros dizem que o eucalipto prejudica a biodiversidade. Nossa experiência mostra que as florestas de eucalipto formam corredores que interligam as áreas de vegetação nativa, além de criar novos ambientes para a fauna. Algumas espécies buscam esses bosques para abrigo, alimentação e reprodução.
Na realidade, a empresa destruiu 50 mil hectares de mata atlântica e toda sua biodivesidade. Na sua propaganda, a Aracruz Celulose afirma que já investiu mais de 100 milhões de dólares em pesquisas sobre o eucalipto, em quase 40 anos.
Diz a empresa que gera milhares de empregos e riqueza através de impostos. Pesquisas realizadas em Santa Maria de Jetibá pelo escritório local do Instituto Capixaba de Assistência Técnica, Pesquisa e Extensão Rural (Incaper) apontam que o eucalipto rende 25 vezes menos do que a agricultura.
A agricultura gera em média um emprego por hectare, enquanto a eucaliptocultura um emprego a cada 30 hectares de plantios. A empresa não paga Imposto Sobre Circulação de Mercadores (ICMS).
A Aracruz Celulose também criou problemas sociais gravíssimos no Espírito Santo. Ocupou e explora 50 mil hectares do território quilombola de Sapê do Norte e outros 40 mil hectares de terras indígenas. O próprio governo federal reconhece serem terras indígenas 18.070 hectares, dos quais a Aracruz Celulose ainda ocupa 11.009 hectares.
A Aracruz Celulose já realizou várias campanhas de propaganda, e adota esta estratégia a cada ação promovida pelos grupos que combatem os danos ambientais, sociais e econômicos que provoca.
Leia o que Augusto Ruschi afirmava sobre o eucalipto
Um dos selos de Século Diário tem como título Ruschi e o eucalipto. Em sua abertura é publicado o seguinte texto: Reservamos para os nossos internautas interessados na questão do eucalipto no Espírito Santo um debate havido entre o naturalista Augusto Ruschi e outros cientistas selecionados pela Aracruz Celulose na defesa do seu plantio. As teses de defesa foram feitas em 1975 e Ruschi fez a sua. Logo em seguida, todas elas foram publicadas no Boletim do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, de número 44, de 31 de maio de 1976. O museu Mello Leitão está situado na cidade serrana de Santa Teresa e foi fundado pelo próprio Augusto Ruschi, que o dirigiu até a sua morte.
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