MPA: Faes faz o jogo da Aracruz Celulose ao defender eucalipto
MPA: Faes faz o jogo da Aracruz Celulose ao defender eucalipto
A Federação da Agricultura do Espírito Santo (Faes) não tem preocupação com a produção de alimentos. Defende os plantios de eucalipto apenas para agradar a transnacional Aracruz Celulose. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (2) por Valmir Noventa, um dos coordenadores estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). A Faes é organização patronal.
Valmir Noventa opinou sobre nota da Faes, com o título O Brasil assusta e amedronta o mundo, com meia página e publicada na edição de sábado (30) de A Gazeta. No manifesto, a Faes defende os plantios de eucalipto da Aracruz Celulose e chama de marginais – pseudo-índios, quilombolas, movimentos sindicais etc -. Pede providências às autoridades para proteger a empresa.
A Faes afirma que plantios de eucalipto em apenas um terço dos 600 mil hectares degradados com pasto no Estado seria bastante para garantir a auto-suficiência do Espírito Santo em madeira.
A nota da Faes destoa de informações da diretoria anterior da entidade, recentemente substituída. Depois de defender por décadas os plantios de eucalipto, o ex-presidente da Faes, Nyder Barbosa de Menezes declarou ao próprio jornal da federação que a eucaliptocultura está tomando o lugar do café no Estado. Afirmou que tem produtor arrancando café para plantar eucalipto. A safra de café deste ano no país, estimada em 60 milhões de sacas, foi de apenas 35 milhões de saca, uma redução de 42%.
Sobre a nota desta sábado, Valmir Noventa afirma que a Faes representa a UDR, o agronegócio, e vem com este papo de defender o eucalipto há muito tempo. As áreas degradadas por pastos devem ser desapropriadas e destinadas a outros fins, prioritariamente para a reforma agrária.
Para o dirigente do MPA não é possível defender as extensas pastagens. Mas aponta que os plantios de eucalipto podem ser ainda mais danosos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Isso porquê o eucalipto consome muita água e nos plantios são aplicados agrotóxicos em quantidade.
A recuperação das áreas degradadas deve ser feita prioritariamente com plantios de espécies nativas, e quanto mais espécies por hectare melhor, ensina o MPA.
Os agricultores camponeses lembram que os plantios de eucalipto não criam empregos. E que para o pequeno produtor o plantio de alimentos gera lucro 25 vezes maior do que os de eucalipto.
Valmir Noventa lembra ainda que é a agricultura camponesa a responsável por 67% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
A Aracruz Celulose assume o plantio de eucalipto em 261 mil hectares de área plantada próprias. Seu latifúndio é ainda formado por outros 139 mil hectares. Os agricultores e ambientalistas afirmam não acreditar que a empresa tenha apenas estas áreas plantadas com eucalipto no país.
A empresa tem cinco fábricas (incluindo a parceria na Veracel). O processo de produção da celulose é extremamente prejudicial ao meio ambiente, e 57% de sua produção é destinada à confecção de papel higiênico na Europa e nos Estados Unidos da América.
O lucro líquido da transnacional Aracruz Celulose chegará a R$ 1,388 bilhão em 2006, caso a empresa mantenha o desempenho do início do ano: nos primeiros três meses, a empresa registrou lucro líquido de R$ 347 milhões. A empresa contabiliza R$ 3,517 bilhões de lucro líquido desde 2003. Do lucro de 2005, R$ 1,2 bilhão, 56% foram enviados ao exterior, onde se concentra boa parte de seus proprietários.
A Aracruz Celulose manda para o exterior a maior parte do seu lucro: em 2005 foram para fora do Brasil 56% do lucro da empresa. Boa parte dos proprietários da Aracruz mora no exterior: os noruegueses Lorentzen detém 28% (o maior acionista é cunhado do Rei da Noruega); outros 28% são do Banco Safra, com sede em Mônaco; 28% da Votorantim, e 12,5% do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Souza Cruz (grupo British American Tobacco) também tem ações na empresa, mas em menor percentual.
O Conselho de Administração da Aracruz Celulose em 1 de dezembro de 2005 era formado por Carlos Alberto Vieira, presidente, Haakon Lorentzen (este substituiu Erling Sven Lorentzen, o norueguês que implantou a empresa no Brasil durante a ditadura militar, com recursos majoritariamente brasileiros), Eliezer Batista da Silva, Luiz Aranha Corrêa do Lago, Ernane Galvêas, Raul Calvat, Álvaro Luiz Veloso, Nelson Koichi Shimada e Sandra Meira Starling. José Luiz Braga é diretor (adjunto) jurídico.
A Aracruz Celulose é presidida pelo brasileiro Carlos Augusto Lira Aguiar, engenheiro químico, nascido em 1945, em Sobral, no Ceará.
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