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Quilombolas do estado discutem agricultura negra

Quilombolas de 60 comunidades do Estado reunidos para discutir agricultura negra

A potencialidade da agricultura negra e quilombola ainda é muito pouco reconhecida, entendida, respeitada

Porto Alegre, RS – Seminário, nos dias 26 e 27 de agosto, no Auditório da Igreja Pompéia (Rua Barros Cassal, 220), pretende dar início a um entendimento, uma compreensão dos diversos modos dos negros de fazer agricultura. Estarão presentes aproximadamente 300 moradores de 60 comunidades quilombolas, na sua maioria agricultores.

Uma realidade a ser mudada

Os negros quilombolas estão espalhados por todas as regiões do Estado do Rio Grande do Sul, formando um conjunto de 120 comunidades já reconhecidas por laudos antropológicos e que mantém uma grande diversidade de interação com a paisagem agrícola, seja na Serra, Planalto, Litoral ou na Região Sul.

Hoje, a agricultura quilombola é, praticamente, de subsistência secundária na dieta alimentar das comunidades. Os quilombolas pouco independentizaram sua atividade agrícola como um trabalho que lhes assegure renda. Trabalhando fora de suas propriedades, os negros quilombolas têm tempo escasso para se dedicar ao plantio próprio e acabam comprando alimentos básicos. São agricultores descapitalizados, com terras depauperadas e fracas.

Casos de destaque das comunidades de Limoeiro, em Palmares do Sul, e de Teixeiras e Casca, no município de Mostardas.

Na primeira, há um trabalho desenvolvido pela Emater que visualizou e potencializou o trabalho de plantio do arroz ecológico, prática reconhecida e multiplicada na região. Os agricultores quilombolas estão aplicando diversas técnicas do uso sem veneno nas plantações e vendo qual é a melhor adaptada à sua cultura, como a utilização tanto de peixes como de marrecos no cultivo do arroz.

Houve desenvolvimento de tecnologias originais. Os quilombolas utilizam emas para a limpeza de terrenos e manejo do solo, o que é inédito em dimensões nacionais. Outra técnica é o uso do bambu para quebra-vento como divisor de áreas. Também fazem piquetes com taquara, áreas de roçado e alguns utilitários.

Nas outras duas, em Mostardas, a produção do artesanato da lã de ovelha já tem reconhecimento nacional. Por uma característica de solo, muito rico em sílica, a lã mostardense tem maior resistência e maciez. Esse trabalho envolve diversas famílias quilombolas, num sistema coletivo de divisão de tarefas entre tosquia, cardagem e confecção das peças. Há ainda a utilização de tinturas através de elementos naturais como casca de cebola, carquejo, marcela, erva-mate. Esse trabalho recebe assessoria da Emater, que realiza diversos cursos de capacitação e de melhoria na produção. Mas ainda não existe uma cooperativa para centralizar a comercialização.

Temas que serão tratados no Seminário: Sementes e Religiosidade – Cosmovisão Africana, Agricultura Negra no Brasil e no Rio Grande do Sul, História da Agricultura Negra, Populações Tradicionais e OMC, Reciprocidade, O sistema em rede de circulação de mercadorias, O pioneirismo no cultivo de arroz no Brasil, Projeto Oriza Glabérrima – o arroz africano, além de testemunhos de experiência regionais em diversos tipos de agricultura.

Organização

O Seminário Nacional de Agricultura Negra e Quilombola está sendo organizado pela Federação das Comunidades Quilombolas do RS e pelo Núcleo de Ecologia e Agriculturas da Guayí, com apoio do Núcleo de Economia Alternativa da UFRGS, do Projeto Compras Coletivas – Quilombolas em Rede, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa do RS e da EMREDE.

Abaixo a programação do Seminário:

Datas: 26 e 27 de agosto de 2006
Local: Auditório Igreja Pompéia – rua Barros Casal nº 220 – Bairro Floresta, Porto Alegre, RS

Programação

26/Agosto – Sábado – Manhã
9h – Coral
9h 15min – Mesa de Abertura
9h 30min – Políticas Públicas para a Agricultura Negra e Quilombola – MDA
10h45 – Intervalo
11h – Pib da Agricultura Familiar no RS e no Brasil
Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa do RS
11h30min – Agricultura Negra no Brasil – Marcos Rodrigues – consultor MDA
12h15min – Agricultura Negra no RS – Federação das Comunidades Quilombolas do RS
12h45min – Almoço

26/Agosto – Sábado – Tarde
14h30min – Sementes e Religiosidade – Cosmo Visão Africana – Prof. Jayro Pereira – UFRGS
15h15min – Testemunhos: Tia Zilá – São Miguel – RS Dona Merecilda – Limoeiro – RS
15h45min – Debate
16h05min – Intervalo
16h20min – Populações Tradicionais e a OMC – Eng Agr. Sebastião Pinheiro – UFRGS
17h10min – Depoimento: João Vicente – Cerro do Ouro – RS
17h25min – Debate
18h – Jantar
21h – Atividade Cultural

27/Agosto – Domingo Manhã
9h – Tecnologias Inovadoras – Geólogo Leib Carteado – Bahia
9h45min – O sistema em rede de circulação de mercadorias e geração de renda – Prof. Sérgio Batista – UFRGS e José Carlos dos Anjos – UFRGS
10h45min – Intervalo
11h – Artesanato e Mercado de Exportação – Sisal – Bahia

Depoimentos:
Artesanato – Qualidade,Tradição e Inovação
Capim Dourado DF/Tocantis
Artesanato – Lã de Ovelha – Casca – RS
12h- Quilombolas Em Rede – Inovação na comercialização – ONG Palmares
12h15min – Almoço

27/Agosto – Domingo – Tarde
14h – Pioneirismo no cultivo do Arroz no Brasil
Agricultores do Maranhão
14h30min – Políticas públicas e o Arroz Ecológico
Manoel Boeira – Limoeiro – RS
15h – Projeto oriza glabérrima – o arroz africano – e Algodão Arbóreo – Eng Agr Sebastião Pinheiro Machado – NEA – UFRGS
Nelson Dias Diehl – Guayí/Neas
15h15min – Grupos de Trabalho
1 – Culinária – Ampliação do horizonte cultural
Monitoras – Lilia Mainardes – RJ / Teresinha – Com. dos Alpes
2 – Comercialização – Viabilização da Agricultura Familiar
Monitor – Luís Alberto Diaz – Projeto Quilombolas Em Rede
3 – Questão Fundiária – Resgate Urgente de um Direito
Monitora – Clédis de Souza – Incra-RS
4 – Agricultura -Da invisibilidade para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras em harmonia com a tradição
Monitor – Roberto Potácio Rosa – Comunidade S. Miguel dos Pretos
16h 30min – Intervalo
16h40min – Plenária de Apresentação dos Grupos de Trabalho
17h20min – Encaminhamentos do Seminário
18h – Encerramento.

Promoção: Federação das Comunidades Quilombolas do RS, Guayí- Núcleo Ecologia e Agriculturas.
Apoio: Comissão de Agricultura e Cooperativismo da Assembléia Legislativa/RS, Núcleo Economia Alternativa – UFRGS, Projeto Compras Coletivas – Quilombolas em Rede e Fundação Juquira Candiru
Texto do jornalista André de Oliveira – Assessoria de Imprensa do evento

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