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Terra de Zumbi

Principal líder da resistência é reverenciado ainda hoje e dá nome até ao aeroporto da capital. Apesar do estado também ter sido berço do primeiro presidente da República brasileira, marechal Deodoro da Fonseca, que virou nome de cidade na Região Metropolitana de Maceió, tombada como patrimônio histórico nacional semana passada, e de personalidades como Graciliano Ramos ou Hermeto Pascoal, a maioria dos turistas que chega a Alagoas lembra-se de outro fato ao falar da região: foi lá que esteve cravado o reino (república, para alguns) que representou a maior resistência contra a escravidão, o Quilombo de Palmares. Seu mais conhecido líder, Zumbi, atualmente dá nome a uma praça e ao moderno aeroporto inaugurado ano passado na capital. Os primeiros registros do Quilombo são de 1580 e dizem respeito a alguns poucos acampamentos montados por escravos foragidos na Serra da Barriga, local a cerca de 100 quilômetros de Maceió escolhido principalmente pela dificuldade de acesso aos capitães-do-mato que tentavam recapturá-los. A resistência cresceu com a chegada de negros alforriados para lutar contra os holandeses que invadiram a região e, depois das lutas, fugiam para o Quilombo. Depois da expulsão dos holandeses, em 1654, a produção açucareira retomou seu lugar de destaque na economia, com a conseqüente necessidade de mais mão-de-obra escrava. O problema para as autoridades e feitores de escravos era que, quanto mais negros eram trazidos da África, mais o Quilombo crescia com a chegada de foragidos. Com o alto preço do tráfico, os feitores começaram a organizar ataques a Palmares para capturar novos escravos. O Quilombo, porém, era governado por Ganga Zumba que, além de promover o crescimento da resistência, adotou táticas de guerrilha para defender o território. Sob sua liderança, Palmares teve, em seus tempos de glória, uma população de cerca de 30 mil negros e chegou a abranger uma área que ia de Cabo Santo Agostinho, em Pernambuco, até o Rio São Francisco, na divisa de Sergipe com Alagoas. Em alguns destes ataques, no entanto, os feitores, apesar de vencidos, conseguiam capturar negros. Segundo fontes históricas, um destes negros, então com 6 anos, voltaria para Palmares anos mais tarde para se tornar o lendário Zumbi, apontado como homem de grande habilidade na frente de batalha e nas questões administrativas.

ENVENENAMENTO

Antes que ele assumisse a liderança, porém, o reino-república continuou sob o comando de Ganga Zumba até 1677, quando o líder da resistência aceitou acordo que reconhecia a liberdade dos negros de Palmares, mas dava-lhes terras infrutíferas na região de Cocaú. A maior parte dos quilombolas rejeitou o acordo, que rendeu a Ganga Zumba uma morte precoce por envenenamento. Seu irmão, Ganga Zona, assumiu o poder, mas não foi capaz de mantê-lo. Aliado dos brancos, Ganga Zona não conseguiu convencer os conterrâneos a baixarem as cabeças para os donos dos engenhos e os negros voltaram para Palmares, já liderados por Zumbi. Ao contrário de seu antecessor, Zumbi trocou a defesa por uma tática de guerrilha ofensiva e começou a atacar os engenhos onde, além de cativos, encontrava também armas, munições e suprimentos para manter o Quilombo. Mas o crescimento da nação quilombola em pleno centro econômico da colônia incomodou a coroa portuguesa. Ameaçadas, as autoridades contrataram, depois de uma séries de investidas fracassadas, o veterano bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. A cartada decisiva do bandeirante ocorreu em 1695, quando suas tropas capturaram um quilombola – que historiadores identificam como Antônio Soares. Com a promessa de que Soares ficaria livre se entregasse Zumbi, Jorge Velho conseguiu armar uma emboscada que terminou com a morte do mais notório líder da resistência negra no país. Depois de morto, Zumbi teve sua cabeça cortada e exposta em praça pública de Recife, pólo econômico da região à época das batalhas. Apesar do Quilombo ter sobrevivido à morte do guerreiro-estrategista-administrador – seu último reduto só foi destruído em 1716, depois de 66 expedições militares e 31 ataques diretos aos acampamentos -é Zumbi que até hoje, mais de 300 anos depois de sua mortes, é reverenciado como o maior líder antiescravista da história das Américas.

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