Quilombolas lutam pela retomada de suas terras
Na manhã do último sábado (29/07), 300 negros e negras das comunidades
quilombolas do Sapê do Norte do Espírito Santo realizaram sua primeira ação
na luta pela retomada de suas terras e ocuparam a área de um antigo
cemitério quilombola, na Comunidade de Linharinho, município de Conceição da
Barra. A área era coberta com plantios de eucaliptos da empresa Aracruz
Celulose e fazendeiros da região desde a década de 70. Contaram com o apoio
do conjunto de entidades e movimentos que participam da Rede Alerta Contra o
Deserto Verde, inclusive do MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA),
Movimento de Direitos Humanos, indígenas Tupinikim e Guarani e estudantes.
“Queremos a terra que produz para as gerações futuras, não o eucalipto”,
afirmou Domingos Firmiano dos Santos (Chapoca), integrante da Comissão
Quilombola do Sapê do Norte. Ele explicou que, com a chegada da Aracruz
Celulose, houve a expulsão das comunidades quilombolas da região, além da
destruição das matas, poluição dos rios e córregos com agrotóxicos e um
forte impacto sobre o modo de vida das comunidades que conseguiram resistir.
“Hoje demos o primeiro passo na nossa luta, pois queremos todo nosso
território de volta”, disse Chapoca.
Além da retirada dos eucaliptos da área do cemitério quilombola, foi feito
um ritual afro descendente em homenagem aos guerreiros e guerreiras que
libertavam seus irmãos escravos das fazendas e formavam os quilombos da
região. Também foram plantadas mudas de árvores frutíferas, simbolizando o
novo uso que as comunidades querem para a terra.
Uma grande Assembléia das Comunidades Quilombolas, que ocorreu na parte da
tarde, decidiu por ocupar a área em que foram derrubados os eucaliptos a fim
de pressionar para a demarcação do território de Linharinho. 9.542,57
hectares já identificados pelos estudos concluído pelo INCRA e publicado no
D.O.U, como território quilombola da comunidade, mas a Aracruz Celulose
contestou o estudo. Atualmente, o processo está novamente no INCRA e os
quilombolas aguardam pelo parecer favorável a eles.
“Essa não é a primeira ação que fazemos contra a Aracruz Celulose e não
pode ser a única”, afirma Gildásio da Costa Paim, integrante da direção
estadual do MST. Ele disse ainda que o agronegócio no estado é representado
pela monocultura do eucalipto e da cana. “A Aracruz é a representante das
multinacionais na agricultura. Esse tipo de plantio não dá espaço para a
produção de alimentos”, explica.
Além de invadir as terras quilombolas, a Aracruz Celulose detém a posse de
áreas devolutas no ES, que deveriam ser destinadas para a Reforma Agrária.
Histórico da resistência quilombola
A região do Sapê do Norte (Conceição da Barra e São Mateus) concentrou
muitos negros e negras desde o escravismo colonial. O Porto de São Mateus
foi o 5º maior mercado de escravos do país e essa região tornou-se um grande
símbolo de resistência, devido à formação de grandes quilombos.
Até a década de 70, antes da chegada da empresa Aracruz Celulose, havia
cerca de 100 comunidades, com aproximadamente 10 mil famílias. Após a
chegada da empresa, resistiram apenas 32 comunidades, com 1200 famílias.
Houve, de fato, um processo de expulsão das comunidades de seu território e
o plantio do eucalipto sobre as essas terras.
As famílias que continuaram na região sobrevivem em meio ao eucaliptal, sem
área de plantio, sem mata, com água contaminada por agrotóxicos e sendo
obrigadas a comercializarem resíduos do eucalipto para a produção de carvão
como forma de conseguir algum recurso financeiro e garantir a sua
sobrevivência.
Desde o ano passado, as comunidades formaram a Comissão Quilombola, com o
objetivo de reunir todas as comunidades do Sapê do Norte e organizar a luta
pela retomada do território. O objetivo dos quilombolas é conseguir a
efetiva e definitiva posse de seu território, tomado pela Aracruz Celulose.
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