Refúgio de escravos originou povoado
Refúgio de escravos originou povoado
BARRA DO PARATECA – O tom negro da pele da maioria dos moradores de Barra do Parateca, distrito de Carinhanha, no Sudoeste da Bahia, é um dos poucos indícios que restaram da antiga comunidade quilombola que deu origem ao povoado. Documentos, construções e registros do povo que fundou o local se perderam no tempo. A falta de instrumentos sobre a história dificultou o reconhecimento oficial da comunidade como remanescente de quilombo. O título só foi adquirido em fevereiro deste ano.
Agora, a presidente da ONG Movimento pela Dignidade e Cidadania do Povo Negro do Meio Rural de Barra do Parateca, Pedrina Mendes, uma estudante de 22 anos, luta para que os recursos repassados pelo Governo federal para os povoados quilombolas sejam aplicados no local. «Precisamos de quase tudo, primeiramente de mais estrutura na saúde», afirma. Segundo ela, a população sofre com a doença de Chagas por causa das casas de pau-a-pique, que favorecem a proliferação do barbeiro transmissor do mal, e também com a hipertensão.
Outro trabalho que a ONG está fazendo é o de recuperação da tradição negra, com a criação de grupos de dança afro e realização de missa afro no Dia da Consciência Negra (20 de novembro). No Sudoeste da Bahia, segundo Pedrina Mendes, existem oito comunidades quilombolas.
O pai de Pedrina, o aposentado Satílio Arcanjo dos Santos, 64 anos, é um dos moradores de Barra do Parateca que tem ajudado na recuperação de parte da memória do distrito. Um tio de Satílio, o escravo Chico Tomé, fez fama na região e foi um dos primeiros a fugir da senzala para fundar quilombos.
O aposentado não sabe dizer qual a origem de sua família, mas lembra que seus antepassados utilizam uma linguagem diferente para se comunicar. «Quando eu era criança, via os mais velhos conversarem de um jeito que só eles entendiam», diz. Satílio também recorda de uma espada muito antiga que seu avô mantinha, além dos ambientes reservados de uma área das casas dos senhores, onde os escravos eram confinados.
O aposentado Hélio Pereira Pinto, 64 anos, que já foi vereador de Carinhanha e mora em Barra do Parateca, conta que uma das primeiras moradoras do distrito foi uma negra chamada Filomena, filha de uma escrava que recebeu terras de um padre que ela ajudou a criar. Depois disso, a herdeira dos terrenos casou-se com um ex-escravo, José Ribeiro. Aos poucos, outros ex-escravos e quilombolas foram povoando a região, formando a comunidade.
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