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Museu Escravo

Belo Vale tem um museu que é único no Brasil: o Museu do Escravo. O acervo conta uma história de dor e resistência que não pode ser esquecida
No centro de Belo Vale, nos fundos da matriz da cidade, este casarão de estilo colonial guarda registros dos três séculos de escravidão no país. São documentos e centenas de instrumentos de tortura recolhidos principalmente nas senzalas das antigas fazendas de Minas.
– Isso aqui são gargalheiros que era utilizados como castigo de fuga. Era colocado no pescoço, fechado com um cadeado e essas hastes grudavam nas árvores, nos cipós, dificultando a fuga. Mas dois exemplos de gagalheiro. Além desse aqui que fazia um barulho e acabava identificando onde o escravo estava.
Seu Antônio não se cansa de observar. Morador da cidade, ele passa horas pesquisando a história dos escravos.
– Meu pai quando eu era ciriança me contava muitas histórias da fazenda onde e foi criado. E Ele viveu com ex-escravos porque ele é do princípio do século XX e conviveu com ex-escravos e ele me contava essas histórias e eu passei a me interessar cada vez mais. Sou um apaixonado pela história. E sempre acha um detalhe ou outro que a gente não conhecia. Agora mesmo estou vendo detalhes que não tinha visto, essa palmatória pro exemplo.
Essa é uma das relíquias do museu um livro de registros de escravos de uso comum nas fazendas. Mauro que tipo de informação história esse livro traz?
– Esse livro contém o nome de escravos e um desenho feito a ferro quente que era determinado em certa parte do corpo do escravo. E servia para identificar a quem esse escravo pertencia. O escravo era marcado igual se marcava animais. Porque no caso de fugir e ser recapturado daria para identificar a quem pertencia esse escravo.
Seu Antônio mostra outra raridade: uma edição do jornal Fluminense que em 21 de maio de 1888 publicou na integra a lei da abolição.
– Eu imagino a chegada dessa notícia da senzala, a festa que deveria ter sido e a tristeza do senhor do escravo.
Os documentos dividem espaço com móveis das antigas fazendas e as louças usadas na época. Ao todo são 3,5 mil peças.
O museu foi construído especialmente para abrigar esse acervo. A sede representa um casarão de fazenda e aos fundos foi criado um pátio que mostra onde os escravos ficavam. Esse lugar é a reprodução fiel de uma senzala que existiu na região.
Nos corredores longos, outros objetos de tortura lembram o sofrimento dos escravos.
– É uma calceta que era colocada na perna dos escravos os denominaram capoeiristas. Instrumentos muito pesados. Essa é uma mascara de jejum que era colocado no escravo, fechado com um cadeado no pescoço e essa parte ficava na boa, impossibilitando o escravo de comer.
Esta peça de madeira – original – era usada para prender os escravos pelos pés e pelas mãos. Um castigo comum, que a novela Sinhá Moça já mostrou.
Das pequenas janelas da senzala só era possível ver o pelourinho. O que existe no museu é uma réplica.
– O escravo permanecia algemado ao pelourinho, às vezes até mesmo pernoitava com o corpo completamente nu.
Aqui há um exemplar do mocambo.
– Mocambo era uma construção de pau a pique coberto de sapé.
Há nove anos Mauro coordena as visitas no museu. Descendente de escravos não vê apenas sofrimento nesse passado.
– Ao mesmo tempo que você sente na pele o que passou, é um orgulho imenso de saber que não desistiu de lutar nunca e não pode desistir.
Reportagem: Juliana Perdigão / Imagem: Milton Alves

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