Quilombo, lugar de gente perseguida, buscada e ameaçada
Lugar de gente alerta ou de prontidão. Perseguida, buscada, ameaçada e, por isso mesmo, em defesa. Segundo o livro Poliantéia Santista, de Fernando Martins Lichti, esta é a definição para quilombo, como mostra o historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos José Dionísio de Almeida. Muito antes da abolição da escravidão no Brasil, há exatos 118 anos, Santos recebia escravos refugiados e os abrigava. Os historiadores entrevistados por A Tribuna confirmam a atuação de três quilombos na Cidade: do Jabaquara, de Pai Felipe e do Garrafão. O processo de formação dos quilombos em Santos, segundo o historiador Carlos Eduardo Finochio, coordenador do curso de História da UniSantos, antecede o surgimento destes três. No entanto, as informações históricas são especulações. Muito antes da assinatura da Lei Áurea – que declara libertos todos os escravos do País – pela princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888, o santista José Bonifácio chocou a sociedade, libertando os escravos da Chácara de Outeirinhos, de sua propriedade. O ano era 1820. Também houve uma movimentação de mulheres na Cidade em favor da abolição, aproximadamente em 1870. A santista Francisca Amália de Assis Faria abrigava negros fugidos transformando o quintal de sua casa em um pequeno quilombo e convidava as amigas a fazer o mesmo, em Santos. Centenas de reclamações foram feitas às autoridades contra as famílias santistas que acolhiam escravos fugidos, mas nada podia ser feito. A santista Anna Benvinda Bueno de Andrada funda a A Emancipadore uma sociedade feminina que promovia alforrias de escravos e se especializou em libertar escravas moças, na Capital.Informação Pesquisando em documentações históricas, o historiador Waldir Rueda encontrou uma cópia da ata de uma reunião da Sociedade Portuguesa de Beneficência, do dia 13 de maio de 1888, em que consta a seguinte frase: …sua alteza a princesa imperial, está talvez a esta hora assinando o decreto pelo qual se extingue a escravidão no Brasil. Com este documento podemos esclarecer que, diferentemente da bibliografia existente, a elite santista tinha conhecimento da possibilidade da assinatura da lei naquele dia. Pode até ter sido um reboliço em Santos, mas não tão grande como dizem. A Santa Casa se reuniu mais de um mês depois, em 26 de junho de 1888, e cita um convite da Câmara Municipal a assistir as festividades promovidas em comemoração pela assinatura da Lei Áurea. Significa que a festa oficial ocorreu dias depois da assinatura, aponta Rueda.Trechos de depoimentosQuando se falar em abolição no Brasil, não se poderá dizer que ela foi obra exclusivamente popular e principalmente paulista. Quem assistiu ao espetáculo soberbo do abolicionismo em São Paulo e Santos, não poderá pensar de modo diferente porque jamais esquecerá as cenas desenroladas, os trabalhos desenvolvidos, as lutas maravilhosas em torno do ideal de libertação (…) Santos foi o baluarte máximo da abolição, o eixo de todo movimento popular que venceu políticas e governos e tem sido esquecido por quantos têm escrito sobre abolição no Brasil, Júlio Conceição.Ao movimento abolicionista em São Paulo está intimamente ligada a existência do famoso Quilombo do Jabaquara, na cidade de Santos, para onde, em regra, convergiam todos os evadidos das senzalas das vizinhanças (…) Onde, porém, o abolicionismo dominou todas as consciências, numa impressionante unanimidade de opiniões, foi na cidade de Santos. Desde que um escravo conseguia pisar as ruas daquele porto, era de fato homem livre, e, de mais a mais, encontrava emprego remunerador para seus braços. Na cidade de Santos guiavam o movimento popular Quintino de Lacerda e Santos Garrafão, fundadores do Quilombo do Jabaquara, Júlio Maurício e Vanssuitem antigo sargento do exército, Evaristo de Morais.
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