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Festa do Pantanal valorizou consciência quilombola

Nossos irmãos quilombolas

Kleber Lima

Tive a felicidade de conhecer um grupo de negros no último final de semana, durante a 13ª Festa Internacional do Pantanal. Três são residentes em comunidades distintas de remanescentes de antigos quilombos na região de Poconé e Livramento, e um é sociólogo e professor da UNEMAT, que trabalha diretamente com as comunidades quilombolas de Mato Grosso.

Catarino José de Oliveira é agricultor na comunidade de Capão Verde. Josemar Ferreira da Silva faz a mesma coisa em Mutuca. E Teófilo Mendes da Silva em Campina de Pedra. Todos cultivam cana-de-açúcar e produzem doces, rapaduras e outras guloseimas com essas frutas.

Eles foram à festa do pantanal expor e comercializar esses produtos. E mais, foram mostrar para a sociedade que os negros dos quilombolas de Mato Grosso vivem do seu trabalho, e não precisam de esmolas, mas de reconhecimento oficial e público. Por exemplo, para regularizar suas terras, normalmente pequenas, de até 200 hectares, onde suas famílias vivem há mais de 100 anos, desde aproximadamente 1886.

Nas palavras do sociólogo Antônio Moura, os negros dos quilombolas precisam apenas de apoio e incentivo oficial para desenvolverem e aperfeiçoarem as atividades econômicas que vêm desenvolvendo a décadas no cultivo de cana, banana e hortaliças, para garantirem sua cidadania. E precisam, sobretudo, da aplicação das leis de proteção criadas a partir Constituição Federal de 1989 e da Constituição Estadual de 1990.

Segundo o professor, outra meta da ida do grupo, que incluiu ainda a dona Olga Santos, que faz remédios à base de plantas medicinais na região da comunidade de Jejum, foi mostrar à sociedade que existem cerca de 70 comunidades quilombolas em Mato Grosso, e não apenas as de Vila Bela e Mata-Cavalo, conhecidas de todos.

“Queremos dar visibilidade a essas comunidades e seus problemas”, diz ele.

O professor destaca ainda um processo interessante que está ocorrendo nessas comunidades, que é a consolidação da sua consciência quilombola. A luta pela resistência na sua terra – que fazendeiros tentam tungar dos remanescentes dos escravos – resultou no arraigamento da sua consciência étnica, da sua origem histórica, da sua negritude e da sua herança africana.

De minha parte, um negro que não sabia da existência de tantas comunidades quilombolas em Mato Grosso, vocês cumpriram seu papel, caros irmãos negros, ao me mostrarem que há muitas questões que ainda precisamos resgatar, principalmente o respeito aos nossos direitos, nossa etnia, nossa raça e nossa história. Morando nas cidades ou nas comunidades quilombolas, somos todos irmãos, cujos antepassados foram todos trazidos nas mesmas naus de traficantes de escravos, nos apartando de nossa gente e nossa cultura, que, de tão forte, foi reconstruída nessa terra também. E que sobrevive, revigorada, a despeito da indiferença oficial.

Kleber Lima é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação da KGM SOLUÇÕES
INSTITUCIONAIS

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