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Quilombolas buscam visibilidade na Festa do Pantanal

Por Kleber Lima

Chamar a atenção das pessoas para a existência de mais de 70 comunidades negras rurais (quilombolas) em Mato Grosso, e dar-lhes visibilidade. Essa é a proposta de quatro comunidades quilombolas que participaram da 13ª Festa Internacional do Pantanal, no Pavilhão da Agricultura Familiar, organizado pela Sedtur.

Com o apoio da UNEMAT, por meio do projeto História e Memória Comunidades Negras Rurais do Município de Poconé, sob a coordenação do sociólogo e professor Antônio Moura, quatro comunidades quilombolas dos municípios de Poconé expuseram durante os quatro dias da festa os produtos feitos a partir da cana-de-açúcar, banana, como balas e doces, além de artesanato e mostras da suas culturas.

As comunidades quilombolas da região de Poconé existem há mais de 100 anos, e vivem da exploração da agricultura para a fabricação de produtos alimentícios, conservando características tradicionais dos antigos escravos.

“Mato Grosso possui mais de 70 comunidades quilombolas, mas apenas Mata-Cavalo e Vila Bela são conhecidas. As outras não têm visibilidade. Esse é um dos nossos objetivos, que é dar visibilidade a essas comunidades desconhecidas ou pouco conhecidas”, afirma o professor Antônio Moura.

Ele avalia, no entanto, que essa invisibilidade não pode ser confundida com perda de identidade dos negros tampouco da sua origem afro-brasileira. “Não há perda de identidade. Ao contrário, as comunidades estão recuperando muito da sua identidade de quilombolas, o que significa que estão tomando consciência das leis de proteção, que gera direitos para os remanescentes de escravos”.

O professor aprova a iniciativa da Sedtur de buscar os quilombolas para participar da festa do pantanal, afirmando que isso cumpre o papel da visibilidade. “Estamos muito satisfeitos de ter sido convidados, e no ano que vem pretendemos trazer mais de 10 comunidades para o evento”, salienta Antônio Moura.

Capão Verde

Localizada no município de Poconé (com acesso à esquerda, pelo km 594 da BR 070), a comunidade Capão Verde conta com cerca de 60 pessoas pertencentes a 14 famílias. Instalados numa área de 200 hectares, eles vivem do cultivo de banana, voltada para a produção da farinha de banana, um complemento alimentar rico em cálcio, ferro e fosfato.

Segundo Catarino José de Oliveira, 28, que vive no lugar, atualmente a farinha tem sido fornecida para creches e escolas de Nossa Senhora do Livramento, dentro do Programa Fome Zero. No total, a produção de farinha, doces e outras guloseimas de banana fica em torno de 100 kg por semana.

Mutuca

Outra comunidade presente foi a de Mutuca, da região de Mata-Cavalo. Lá vivem em 200 ha cerca de 200 pessoas de 36 famílias, entre elas tios e primos da Miss Mato Grosso 2006, Vanessa Regina de Jesus.

“Nós fazemos farinha de banana há mais de 30 anos, aprendemos ainda crianças”, revela Josemar Ferreira da Silva, 24, morador de Mutuca. Nessa comunidade a banana também é a principal atividade econômica, voltada para a farinha, doce embalado na própria palha da fruta, rapadura e também doce de caju.

Campina de Pedra

Já na Campina de Pedra, com 125 hectares, vivem 136 pessoas de 36 famílias, e a cana-de-açúcar é a principal atividade econômica, direcionada para a produção de rapadura, melaço, e agora estão desenvolvendo a fabricação de açúcar mascavo.

De acordo com o morador Teófilo Mendes da Silva, junta a comunidade produz cerca de 1.000 kg de rapadura de cana por semana, com peso médio de ½ kg cada uma. A comercialização da produção, conta, é feita basicamente em Poconé.

Teófilo destaca também aspectos culturais da comunidade, no km 32 da Estrada do Corrente (acesso pelo km 42 da MT 060, rodovia Cuiabá Poconé). “Nossa dança é a tradicional, com tambor de couro de boi enrolado na lata”, gaba-se, ao falar das fotos dos cururueiros da Campina de Pedra.

Jejum

Já na comunidade de Jejum, além da banana e da cana-de-açúcar, destacam-se os remédios naturais feitos pela dona Olga Souza, como garrafadas e sabonetes para curar diversas doenças.

“Essas comunidades não precisam da piedade nem de esmolas de ninguém. Eles são trabalhadores, com grande experiência na agricultura e produção de alimentos, inclusive com absoluto respeito ao meio ambiente”, destaca o professor da UNEMAT. “Tudo o que eles precisam é de apoio institucional e técnico para desenvolver suas habilidades e viver com mais dignidade”, observa.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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