Monocultura do eucalipto será discutida por movimentos sociais
Por Flávia Bernardes
Os impactos produzidos pela monocultura do eucalipto serão tema do seminário “Os impactos da monocultura do eucalipto no Espírito Santo”, que será realizado no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes, na próxima segunda-feira (10), às 18h. Participarão o Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), ONGs, indígenas e quilombolas.
Serão debatidos ainda a reforma agrária, a agricultura familiar, o ambiente e os danos que a monocultura gera para a região, além da perda de cultura das comunidades impactadas, índios e quilombolas.
A monocultura vem sendo tema de destaque, principalmente depois da ação das mulheres camponesas, ao protestarem na fábrica da Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul, em março. No Fórum Global da Sociedade Civil, paralela à 8° Conferência das Partes da Convenção (COP8), ONGs internacionais apresentaram uma moratória global para as monoculturas de árvores exóticas e transgênicas. Estas citaram ainda a Aracruz Celulose, a Votorantim e a corporação sueco-finlandesa Stora Enso como as principais responsáveis pela degradação provocada por esta monocultura.
O pedido foi feito durante o seminário “Monocultura de Árvores – Uma ameaça à Biodiversidade”, realizado com o objetivo de alertar para os perigos da introdução de espécies transgênicas, que agravam os danos à biodiversidade já observados nas monoculturas de eucalipto, acácia e pinus, como a polinização de espécies nativa.
Vindo da Austrália e de ilhas da Oceania, o eucalipto foi introduzido no Brasil no início do Século XX, e hoje ocupa mais de três milhões de hectares. No Brasil, quase toda a produção de papel e celulose é destinada ao mercado externo. A monocultura de pinho e eucalipto, principalmente, também está associada a disputas por terras em vários estados. De um lado estão as indústrias e, de outro, remanescentes de quilombolas, indígenas e agricultores familiares, como ocorre no Espírito Santo.
Só no Espírito Santo e no sul da Bahia estão plantados 450 mil hectares de eucalipto, para produção de celulose. Aqui a expansão da monocultura tem causado preocupação em ambientalistas que alertam para a destruição dos cursos dágua, empobrecimento do solo, destruição da biodiversidade, além de sérios problemas sociais causados pela monocultura nas comunidades tradicionais.
Em uma pesquisa publicada na revista Science, divulgada no final de 2005, tal preocupação é ainda mais fundamentada. Segundo a pesquisa, nos pampas da Argentina, as monoculturas de eucaliptos acabaram reduzindo em 52% o fluxo de cursos de água próximos às plantações, além de provocar ressecamento completo de 13% dos rios e arroios. A monocultura na região também aumentou o nível de aridez da terra.
No Estado, o Movimento dos Pequenos Agricultores, através de seu coordenador Sérgio Conti, já alertou para o uso da monocultura transgênica. Desta forma, a colheita da planta pra o uso industrial será feita em menor tempo, aumentando os danos ambientais. Algumas experiências neste sentido já são feitas no sul do País, a idéia é ter plantas com mais celulose e menos lignina – substância que dá resistência à madeira -, que não serve para a produção de papel. O MPA busca precisar onde estão os plantios dos eucaliptos transgênicos no Espírito Santo, e em outros estados.
O eucalipto é uma árvore que se reproduz com facilidade e com intenso cruzamento entre parentes e com isso há o receio de que a polinização, que ocorre principalmente com a ajuda das abelhas (que podem voar até 5 km em busca de flores), prejudique o cruzamento de árvores transgênicas com árvores comuns. Tais cruzamentos são desconhecidos e podem ser incertos, especialmente sobre pequenos e médios produtores, podendo trazer características indesejadas às árvores manejadas.
No Brasil, restam apenas 7% da configuração original da mata atlântica. Na Bahia, os Ministérios Públicos Estadual e Federal, além de outras entidades representativas, solicitam ao Ibama informações sobre os impactos de plantações de eucalipto (para produção de papel) ao bioma.
< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>