Lançada 3a edição do livro “O negro no Pará – sob o regime da escravidão”
Vicente Salles é homenageado no Rio de Janeiro
O pesquisador paraense Vicente Salles recebeu uma homenagem especial na noite da última terça-feira (21), no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Rio de Janeiro, instituição que ajudou a criar há mais de 50 anos.
A homenagem foi promovida pelo Instituto de Artes do Pará (IAP) e Programa Raízes, em parceria com a direção do CNFCP, durante a programação de lançamento da terceira edição do livro O negro no Pará – sob o regime da escravidão e do documentário O negro no Pará – cinco décadas depois…, produções do IAP e Programa Raízes. Na programação, ainda houve um diálogo entre Salles e o antropólogo Raul Lody, pesquisador do centro e ex-aluno de Salles.
Na platéia estiveram presentes, entre outros, companheiros de Salles desde a época da Campanha Nacional em Defesa do Folclore, movimento que nos anos 50, liderado pelo antropólogo baiano Edison Carneiro, deu origem ao Centro Nacional, instituição de pesquisa das mais importantes do país. Bráulio Nascimento, um dos pioneiros que compareceram à homenagem, destacou a importância do trabalho de Salles para os estudos culturais brasileiros.
“Vicente fez revelações importantes no Pará. Estudou a literatura de cordel, quando se acreditava que essa literatura só existisse no Nordeste. Descobriu editoras da maior importância, dando à literatura do Pará uma ambiência maior. Essa pesquisa se complementa com O negro no Pará, porque mostra duas culturas diversas. Agora, cabe às novas gerações continuar o trabalho que começamos, porque isso é fundamental para a identidade do país”, afirmou o pesquisador, que foi secretário do Conselho Nacional de Folclore.
Vicente Salles, ao agradecer a homenagem, rememorou a história de sua pesquisa, nos anos 50, quando Edison Carneiro, em visita ao Pará, lançou-lhe um desafio: continuar os estudos sobre terreiros de umbanda que ele, Carneiro, havia iniciado e estendido até o Maranhão.
Salles prosseguiu a pesquisa, sistematizando fontes que o conduziram a O negro no Pará – sob o regime da escravidão, publicado pela primeira vez nos anos 70 pela Fundação Getúlio Vargas, sob a responsabilidade do historiador amazonense Artur Cezar Ferreira Reis.
Na pesquisa aparece como fonte a atriz paraense Cléa Simões, falecida em fevereiro último. Negra descendente de barbadianos, Cléa trabalhou na Campanha de Defesa do Folclore e contribuiu com um depoimento sobre a música de seus ancestrais. No documentário O negro no Pará – cinco décadas depois…, dirigido por Afonso Gallindo, ela repete sua performance, cantando três músicas e registrando um depoimento sobre sua amizade com o pesquisador.
O antropólogo Raul Lody comparou o paraense a um relojoeiro pela forma cuidadosa e minuciosa de tratar seus objetos de pesquisa. “É um trabalho que envolve delicadeza, acuidade, presteza e energia. Vicente faz parte da mesma corte onde estão Gilberto Freyre e Roger Bastide”, reforça.
A diretora do CNFCP, Cláudia Márcia Ferreira, reiterou a importância da realização do evento naquele local como um reconhecimento ao trabalho daqueles pioneiros, que contribuíram para que a Biblioteca Amadeu Amaral, organizada por Salles, hoje reúna 200 mil documentos, entre livros, recortes de jornais, materiais sonoros e audiovisuais. “Reconhecemos e continuamos o trabalho de muitas pessoas neste país tão grande em uma área tão difícil, que é o estudo da cultura do povo”.
Regina Maneschy, presidente do IAP, destacou a grandeza ética e intelectual de Salles, enfatizando que suas palavras estão sempre em acordo com seu trabalho e seu pensamento. E Sérgio Fernandes, da coordenação do Programa Raízes, ressaltou a importância da parceria com o IAP na viabilização da edição da obra de Salles voltada para a cultura negra, pois seu caráter documental e educacional possibilita às comunidades remanescentes de quilombos no Pará, para as quais o livro tem sido distribuído, reconhecerem sua história.
O livro O negro no Pará – sob o regime da escravidão pode ser encontrado na sede do IAP, em Belém, e na loja do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no complexo do Catete, no Rio de Janeiro. O documentário O negro no Pará – cinco décadas depois… estará disponível ao público, em DVD, nas próximas semanas
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