Antropóloga nega período da escravidão na Marambaia diante dequilombolas
Durante sua palestra no III Simpósio Técnico-Científico sobre a Marambaia, organizado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a antropóloga Nanci Vieira deixou uma grande lacuna ao refazer a história da região. Ela falou do período em que franceses e portugueses disputaram o domínio da ilha, dos índios que lá habitavam, e deu um salto de 1856 até o tempo em que a Fundação Cristo Redentor se instalou na área, em 1927. Dessa forma, ignorou completamente a época de escravidão – alegando, inclusive, que nunca existiram as senzalas – e deliberadamente omitiu a figura do comendador Breves, poderoso senhor do café, e dos escravos trazidos por ele da África para passarem por um período na ilha até recuperarem as forças e trabalharem em suas fazendas.
Carregando uma faixa em que reafirmavam sua existência enquanto remanescentes de quilombo (denominação comprovada pelo laudo antropológico, cuja versão resumida está disponível no Observatório Quilombola www.koinonia.org.br/oq/pdfs/LAUDO.pdf), cerca de 20 quilombolas ouviram a explanação inconformados. Adriano de Lima, representante da comunidade, pediu a palavra, contestando a professora. A sua fala foi complementada pelo antropólogo Fábio Reis Mota e pela Profa. Luciana Amorim, participante do Simpósio, ambos apresentando argumentos que contradiziam a história contada pela Profa. Nanci.
“Aconteceu o que já prevíamos, a Profa. Nanci Vieira ignorou o período da escravidão. Deu ênfase aos períodos anteriores, em que, segundo ela, existiam apenas índios naquele local. (…) Felizmente, a Profa. Luciana Amorim se disse surpresa com essa lacuna deixada por ela e contrariou vários de seus argumentos, deixando claro que a comunidade não é a vilã na história”, relatou Adriano.
Segundos os quilombolas, houve também o pronunciamento de um representante da Marinha, que disse não ser do interesse da mesma tirar os moradores da Ilha e sim contribuir para o bem estar da comunidade.
De todos os argumentos colocados até hoje contra a presença dos quilombolas na Ilha, o da Profa. Nanci é o mais assustador, ao querer apagá-los do mapa, negando que algum dia existiram.
Amanhã, dia 22, é o encerramento do Simpósio, e os moradores estarão presentes com a faixa e distribuindo panfletos.
Para mais detalhes sobre o caso, acesse o Dossiê Marambaia (www.koinonia.org.br/oq/home_dossie1.htm) e as notícias mais recentes:
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