Começam plantios de eucaliptos transgênicos
Começam plantios de eucaliptos transgênicos no ES, alerta MPA
Por Ubervalter Coimbra
A multinacional Aracruz Celulose já começou a plantar eucalipto transgênico no Espírito Santo. Desta forma, a colheita da planta para uso industrial será feita com cinco anos, aumentando os danos ambientais provocados pela monocultura. O corte do eucalipto atualmente é feito aos sete anos. O eucalipto, além de ser precoce no Brasil, também é voraz no consumo de água e nutrientes.
Plantios intensivos desta espécie são altamente prejudiciais ao meio ambiente. A denúncia de que os plantios de eucalipto transgênicos já começaram no Espírito Santo é do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), segundo informou um de seus coordenadores no Estado, Sérgio Conti. A tendência é de que toda a produção seja uniformizada com este novo material genético.
Hoje, a Aracruz Celulose e a maioria das empresas produtoras de eucalipto usam o superclonato. As árvores produzidas com estes clones atingem condições de corte em sete anos. Já o eucalipto transgênico poderá atingir o ponto de corte em cinco anos, dependendo das condições de nutrição, temperatura e água. Sua precocidade aumentará muito os impactos ambientais.
O MPA está buscando precisar onde estão os plantios dos eucaliptos transgênicos no Espírito Santo, e em outros estados. Vai denunciar que haverá maior destruição da natureza, com uso ainda mais intensivo de nutrientes do solo, da água, além do emprego também maior de agrotóxicos, herbicidas e formicidas, principalmente.
A competição destes plantios com a agricultura camponesa será ainda maior. Como maiores serão os lucros das transnacionais que atuam na produção de celulose. A Aracruz Celulose teve lucro líquido de R$ 3,17 bilhões nos últimos três anos.
O lucro da empresa é favorecido pelos dos governos federal e estadual desde sua implantação: os governos federais emprestam dinheiro com juros de até 2% ano, grande parte do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A empresa também lucra com a apropriação indébita de territórios quilombolas, índios e de pequenos proprietários rurais. Também ocupou e mantêm em seu poder terras devolutas, que são públicas.
Apesar de seus lucros astronômicos, a empresa emprega pouco. No final de 2005, tinha apenas 2.249 empregados próprios, e 7.988 terceirizados, como informa em seu balanço. O controle acionário da Aracruz é exercido pelos grupos Lorentzen – ligado à Coroa norueguesa – Safra, Votorantim (28% do capital votante cada) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES -, com 12,5% do capital). O presidente da Aracruz Celulose é Carlos Augusto Lira Aguiar, engenheiro químico, nascido em 1945, em Sobral, no Ceará.
Testes no Brasil começaram em 2001
O eucalipto transgênico já estava sendo testado no exterior em 2001, como alertou no Espírito Santo o pesquisador Sebastião Pinheiro, da Fundação Juquira Candiru, do Rio Grande do Sul. Os testes estavam sendo realizados pelas empresas multinacionais na Austrália e África do Sul.
Ele apontava na ocasião que no Brasil o eucalipto transgênico poderia estar sendo plantado em grande escala nos próximos cinco a oito anos. Com o eucalipto transgênicos as empresas multinacionais buscam maior precocidade, mais resistência a pragas e maior rendimento para produção de celulose.
Nas condições atuais de produção, os gigantescos plantios de eucalipto em diversas partes do mundo causam impactos ambientais, reduzindo as reservas de água, nutrientes no solo e, como as empresas empregam agrotóxicos, provocando danos à fauna e à flora.
O próprio eucalipto produz toxina que impede o desenvolvimento de outras espécies vegetais em suas proximidades e suas folhas não são consumidas pelos animais, exceto por uma espécie no seu ambiente de origem, a Austrália e, por algumas pragas, como a formiga.
O eucalipto causa também impactos sociais. Gera concentração de terra, principalmente pelas multinacionais, causando êxodo rural. No caso do Espírito Santo provocou problemas aos pequenos agricultores, quilombolas e índios.
Em 2003, pesquisadores e empresas associadas ao Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef) participaram de uma pesquisa inédita para avaliar o eucalipto transgênico. O programa foi lançado durante o 1º Curso de Biosegurança com Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), realizado em Itu. A pesquisa foi realizada em rede por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) junto com as empresas envolvidas no projeto.
Entre as empresas participantes estão Aracruz, Votorantim, Duratex, Ripasa, International Paper, Veracel e o Conselho Empresarial de Biotecnologia e Desenvolvimento Sustentável. O setor industrial avalia que a criação da rede pode minimizar a resistência à pesquisa transgênica. Eles querem também, e principalmente, evitar os problemas enfrentados pela americana Monsanto, que sozinha enfrentou forte resistência às pesquisas com a soja Roundup Ready que coordenava em campos experimentais no Sul.
Os ensaios com os plantios de eucalipto transgênico começaram em setembro de 2001. O projeto reúne empresas como a Aracruz Celulose, Bahia Sul, Cenibra, Celmar, Rigesa, International Paper, e Votorantim Celulose e Papel (VCP). Com o emprego da biotecnologia a indústria de papel e celulose busca aumentar os lucros.
Uma outra pesquisa, que contou com investimentos de R$ 2 milhões, financiados pela VCP, Suzano, Ripasa e Duratex. Nela, os pesquisadores da Esalq, da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um eucalipto transgênico, com o objetivo de diminuir custos da produção de papel e da extração da árvore.
Há ainda pesquisa sobre sequenciamento genético da espécie, trabalho efetuado por duas frentes de pesquisadores financiados pelo governo federal e pela Fapesp. O eucalipto é matéria-prima da celulose usada, entre outros fins, para produzir papel higiênico e papel, aglomerados de madeira e carvão vegetal. Participam a Embrapa e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), com participação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Na pesquisa, um gene de ervilha (Pisum sativum) que aumenta biomassa e a capacidade fotossintética foi introduzida nas plantas do gênero Eucalyptus. O gene codifica a síntese de uma das proteínas responsáveis pela absorção da luz nos cloroplastos (estrutura das células vegetais responsável pela fotossíntese). O gene que é incorporado ao genoma da planta leva ao aumento da absorção de luz pelo vegetal, o que a torna precoce.
O gene da ervilha foi incorporado à bactéria Agrobacterium tumefaciens para, em seguida, o microorganismo ser levado a promover a transferência de parte do seu genoma para infectar folhas de eucalipto. O gene da ervilha que comanda a produção de proteínas chega, então, ao cloroplasto do eucalipto, potencializando o aumento da sua biomassa.
Com o emprego da biotecnologia, a reprodução de um simples pedaço de folha ou qualquer outra parte do eucalipto alterado geneticamente pode originar uma planta inteira.
O eucalipto é originário da Austrália, e chegou Brasil em 1825. Com o melhoramento genético – seleção de variedades que melhor se desenvolvem e/ou resistentes a pragas e doenças – e com o cruzamento de espécies, realizadas há 20 anos, a produtividade do eucalipto no Brasil passou de, no máximo, 10 metros cúbicos, no início da década de 80, para 45 metros cúbicos de madeira por hectare ao ano, atualmente.
O Brasil tem a maior área com plantio de eucalipto do mundo, cerca de cinco milhões de hectares e, com apoio do Governo Federal e Governos Estaduais, as empresas pretendem aumentar os plantios para 11 milhões de hectares.
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