Quilombolas ganham a vida em Pipa
Os costumes e valores atuais dos quilombolas de Sibaúma de pouco se aproximam aos de seus descendentes, dos primórdios do século 19. O alcoolismo e a pobreza juntam-se ao analfabetismo ainda presente na população. Mesmo a negritude característica se perdeu. Pesquisas mostram que por volta de 1962 se deram as primeiras miscigenações com brancos entre membros da comunidade.
Sibaúma hoje é distrito cortado por uma rodovia recém-asfaltada. Na vila, centro da comunidade, ainda há moradias de taipa. São poucas. Quando se avança pelos caminhos em diagonal à estrada, verifica-se maior número de casas rústicas, ainda de palhas de coqueiro.
Numa delas, a quilombola Marli Fagundes, 30 anos, preparava a lenha que esquentaria o almoço. O prato do dia era feijão e macarrão. O barraco, de no máximo 12 metros quadrados abriga também quatro filhos, todos crianças. Para dormir eles se dividem em duas redes enroladas e uma cama de casal. Sete panelas de alumínio estavam penduradas numa das paredes de palha. O fogão de quatro bocas distava menos de dois metros da cama ou do armário de duas portas.
Como a maioria dos quilombolas de Sibaúma Marli acorda de 5 horas para trabalhar na Pipa durante o dia e volta nos fins de tarde para casa. Ela é doméstica e analfabeta. Deixou de estudar para trabalhar. Separada do marido e com sua moradia destruída por latifundiários há uma semana, Marli ocupou um barraco vazio. Após o carnaval, afirma, o dono deve desocupá-la. E ela procurará outro para ficar.
Garçons, guias, vigias e serviços de limpeza e comércio. Essas são as atividades desenvolvidas pelos quilombolas de Sibaúma, seja em Pipa ou Barra de Cunhaú. As mulheres concentram-se mais em pousadas, sobretudo na alta estação. Em menor número, há pescadores e agricultores que mantêm a cultura de subsistência. A pesca é feita com tarrafas e tresmalhos. No rio, os jacundás, tarpons, lambaris, carapébas e tilápias são os peixes mais encontrados. No mar, as tainhas, bagres e robalos são a carne do almoço diário.
As culturas cultivadas variam entre batata-doce, inhame, jerimum, banana, mandioca e feijão. A colheita é para consumo já que a terra já se faz pouca e impossibilita a prática comercial. Os roçados, chamados pauls, são terras alagadiças, de extrema fertilidade, visadas também por latifundiários. Os quilombolas esperam a titulação das terras para plantar no local e alavancar o comércio dos produtos alimentícios.
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