Arca das Letras beneficia comunidades rurais
O Ministério do Desenvolvimento Agrário também aderiu às ações de incentivo à leitura do governo federal. Alguns assentamentos da reforma agrária, apesar de muitas vezes sofrerem com a falta de infra-estrutura, contam com uma bibliotequinha. Batizado de Arca das Letras, o programa já foi implantado em 1.369 comunidades rurais.
— Há muitos lugares onde nós chegamos e não há nada, nenhuma opção de lazer, só a arca. Constatamos também que a população rural lê muito. Dizer que essas pessoas não têm sede de cultura é mito — diz Cleide Soares, coordenadora do programa.
Ela acredita que esse tipo de iniciativa deveria integrar o orçamento dos ministérios da Cultura e da Educação.
— Eles é que deveriam estar fazendo isso. Como os assentamentos em comunidades rurais são longe das cidades e de difícil acesso, o governo muitas vezes não chega lá — reclama.
A arca que faz a alegria de quem não tem outra opção de lazer é uma estante de madeira produzida por presidiários de Petrolina (PE), Mossoró (RN) e Fortaleza (CE). Alunos da Fundação Pão dos Pobres, no Rio Grande do Sul, também constróem os móveis e os livros que viajam nela são sugestões dos ministérios da Educação e da Cultura. Boa parte é doada por editoras, escritores, voluntários e é obtida também em campanhas públicas de doação.
A Secretaria de Reordenamento Agrário do ministério, responsável pelo programa, já distribuiu cerca de 340 mil livros em assentamentos, comunidades rurais e também em quilombos, onde vivem os remanescentes dos escravos em terras que pertenceram a seus ancestrais. Cada arca conta com 230 livros de gêneros variados. Há títulos de literatura, infantis e didáticos.
A secretaria procura incluir na Arca das Letras livros que tenham relação com a realidade das comunidades. Nos acervos há temas como meio ambiente, agricultura, educação e saúde. Muitas vezes é a própria comunidade ou o assentamento quem sugere os temas dos livros incluídos na arca.
Mas para que o projeto tenha efeitos mais duradouros o ministério não faz apenas a entrega das bibliotecas nas comunidades. O governo treina e forma os chamados agentes de leitura — pessoas alfabetizadas da região, que trabalham como voluntários — para incrementar a disseminação da leitura junto a adultos e crianças. Já foram capacitados 2.913 agentes, que atuam em 16 estados. Segundo a secretaria, as bibliotecas já distribuídas beneficiam 137.649 famílias.
O programa Arca das Letras foi lançado no final de 2003 e hoje já é um modelo exportado. As caixas-estantes que formam a arca já chegam ao Timor Leste e em Cuba. O Ministério do Desenvolvimento Social afirma que não gasta um centavo com o programa porque os custos foram assumidos pelo Centro Cultural Banco do Brasil. O material para a fabricação de cada arca sai por R$500. A mão-de-obra dos presidiários é gratuita, pois eles trocam o trabalho pela remissão da pena, e o transporte das arcas até os assentamentos é feito com veículos do próprio ministério.
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