Pedra do Sal resgata sua história para defender moradia
A Pedra do Sal faz parte da história e da cultura da cidade do Rio de Janeiro e já é reconhecida como patrimônio histórico pelo estado desde 1984.
Agora, os becos e ruas tortuosas daquele trecho do bairro da Saúde ganharam da Fundação Palmares o certificado de área remanescente de quilombo, declaração que tem valor de documento oficial no Brasil. Aos pés do Morro da Conceição e a poucos metros da Praça Mauá, a comunidade da Pedra do Sal sobe, assim, mais um degrau na luta que trava para permanecer no local. Os moradores estão sendo despejados de suas casas por meio de decisões judiciais em ações movidas pela Ordem Terceira da Penitência, da Igreja Católica, que diz ser proprietária da área.
Ao defenderem a posse das casas em que vivem, os moradores argumentam que a área teria sido doada pelo governo, ainda no tempo do Império, a negros que trabalharam na abertura de uma rua no local. Já a Igreja alega possuir uma declaração da Prefeitura, de 1942, que reconheceria a área como pertencente à Ordem Terceira, que diz querer, com as desocupações, expandir um colégio que mantém no bairro.
Alvorada no Dia do Samba contra a desocupação
Foi com um decreto de 1816 que alguns homens negros foram requisitados pelo Império para cortar a Pedra do Sal. Os registros do Arquivo do antigo Distrito Federal informam que 12 toneladas de pólvora foram usadas para abrir caminho para uma via – antes Rua da Saúde, hoje Sacadura Cabral. O objetivo era ligar o cais do porto a São Cristóvão, bairro que hospedou a Família Real portuguesa quando esta chegou ao Brasil, em 1808, na debandada provocada pela aproximação das tropas de Napoleão Bonaparte. Em troca, os negros receberam a promessa de que receberiam como doação a área hoje reivindicada como remanescente de quilombo.
Em novembro do ano passado, cinco famílias foram removidas do nº 113 da Sacadura Cabral, próximo ao local em que os negros cortaram a pedra no início do século 19. Outras 30 foram despejadas do prédio nº 1 da rua Mato Grosso.
Nos dias 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e 2 de Dezembro, Dia Nacional do Samba, a Pedra do Sal foi palco de atividades contra estes despejos. O barulho e o tempero dos protestos parecem estar dando os primeiros resultados. Alguns despejos de famílias teriam sido suspensos e, em dezembro, a área foi reconhecida como remanescente quilombola. “Em janeiro haverá reunião com o Incra na comunidade para uma demarcação”, informa o estivador Damião Braga, presidente da Associação dos Moradores da Saúde e militante do movimento negro, que vê a região como um marco cultural e político carioca.
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