Projeto Quilombos visita Comunidade de Misericórdia
O Projeto Quilombos Gerais visitou a Comunidade de Misericórdia no município de Chapada do Norte / MG
A comunidade de Misericórdia localiza–se na zona rural do município de Chapada do Norte, no médio Vale do Jequitinhonha, possuindo vinte e quatro famílias e uma população de mais ou menos cento e setenta pessoas.
O rio Capivari é o curso d’água mais próximo do povoado, pois o rio Misericórdia, que passava dentro do povoado, secou em conseqüência do plantio de eucalipto na região, do assoreamento causado pela prática do garimpo e do desmatamento da vegetação local.A comunidade não possui escolas, sendo que a mais perto fica no povoado de Batieiro, a mais ou menos dois quilômetros do quilombo. Misericórdia não possui rede elétrica e nem saneamento básico, não há coleta periódica do lixo, o que obriga os moradores jogarem o lixo em outras áreas ou queimar.
A vegetação que predomina na região é o cerrado, em estado avançado de desmatamento. As principais causas deste desmatamento é a agricultura, principal fonte de renda da comunidade e o corte do cerrado para a produção de carvão. As terras da região estão bastante castigadas pela prática constante do garimpo.
Os moradores da comunidade de Misericórdia fazem muito o uso de plantas e ervas medicinais e também fazem a utilização do barro que é bento, pelas benzedoras locais e que serve para várias coisas como dor de estômago, diarréia, para pele, para os cabelos, etc. O principal problema é que este barro é tirado de um local poluído, o que torna o uso perigoso uma vez que a população ingere o barro.
A maioria das pessoas jovens e adultos da comunidade migram para o interior de São Paulo. Durante um período de seis meses, os migrantes sazonais trabalham nas lavouras de cana – de – açúcar e na colheita do café. Grande parte dos trabalhadores de Misericórdia não possui carteira assinada e nem emprego formal.
As plantações que existem no povoado dá na maioria das vezes só para a subsistência dos moradores, vendendo eventualmente o milho para comerciantes da cidade.
Segundo a moradora e líder comunitária, Dona Eva, existe no povoado uma máquina de extrair ouro trazido pelos portugueses no século XIX, ainda na época da escravidão do Brasil. Segundo Dona Eva, o nome da comunidade é oriundo do período que os portugueses chegaram na região para extrair o minério e quase não sobrava água para os negros que trabalhavam para eles, então duas moradoras foram pegar água na cacimba e a mesma não dava para as duas, então elas começaram a discutir pela água, uma delas falou: “Misericórdia, não vamos brigar por água”, daí a origem do nome Misericórdia. Segundo João, o patriarca do quilombo, este nome foi colocado porque muitos escravos sofreram e morreram no garimpo da região.
A comunidade possui a Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário, cuja rainha é a própria Dona Eva. A Guarda se apresenta em vários lugares, inclusive na festa de Nossa Senhora do Rosário em Chapada do Norte, que é bastante famosa na região. Dona Eva conta que antigamente havia quarenta e duas pessoas na Guarda e atualmente consta a participação de apenas vinte e dois integrantes.
A padroeira da comunidade é Nossa Senhora do Rosário e Santa Anastácia, santa protetora dos negros, além do congado a comunidade realiza o batuque, a folia de reis, o canto do Boiadeiro e a catira e a dança dos nove, mantendo firme suas raízes culturais.
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