Comunidade de Santiago
O Projeto Quilombos Gerais – CEDEFES, juntamente com o Instituto Brasileiro de Educação e Cultura – IBRAEC e da prefeitura de Minas Novas estiveram na comunidade quilombola de Santiago.
A comunidade quilombola de Santiago se localiza no município de Minas Novas, no médio Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. A comunidade de Santiago faz parte de uma rede familiar na região de Trovoada. As famílias de Santiago possuem parentescos com as famílias das comunidades de Cabeceiras e de Quilombo.
Uma fazenda denominada Alagadiço e pertencente a uma fundação italiana está encravada na região onde estão localizadas as comunidades quilombolas. Nesta fazenda funcionou um grande hospital e serviu de esconderijo e de lavagem de dinheiro de mafiosos italianos. Hoje suas terras estão sendo pleiteados por trabalhadores rurais sem terras.
Segundo o morador José Eustáquio, o nome de Santiago é originário de uma mina d`água batizada pelos tropeiros que a encontraram de santa água. Sendo Santiago uma corruptela do nome. Outros moradores acreditam que o nome é uma homenagem ao santo padroeiro: São Thiago.
A comunidade dista aproximadamente setenta e cinco quilômetros da sede, sendo as cidades de Capelinha (trinta quilômetros) e Setubinha (vinte e cinco quilômetros) mais próximas ao acesso dos moradores para uso de escolas e do hospital.
Moram atualmente na comunidade aproximadamente trinta famílias que trabalham no cultivo de milho, arroz, café, mandioca, feijão e do extrativismo do palmito. Existe uma casa de farinha comunitária e uma centrífuga de mel. Algumas famílias produzem artesanato de cestaria (peneira e balaio), alianças de metal e na produção de rapadura. O trabalho na lavoura e na produção de artesanato é muito difícil, principalmente pela atual degradação ambiental do entorno de Santiago, sendo a migração sazonal – trabalho de corte de cana e da colheita do café em São Paulo e no Paraná durante seis meses do ano – e a migração aos grandes centros urbanos uma saída de sobrevivência econômica.
No entorno da comunidade o plantio de café e de eucalipto absorvem os quilombolas em trabalhos temporários. As empresas reflorestadoras de eucalipto na região são Acesita e CBI. O eucalipto está causando um enorme impacto ambiental, social e cultural em Santiago, pois diversos riachos secaram e outros estão poluídos pelo uso de agrotóxicos, animais desapareceram, o solo empobreceu e a diversidade ambiental diminuiu assustadoramente. Antes a região possuía o cerrado e hoje está cercada por um grande deserto verde.
A questão da grilagem das terras tradicionais é um grande problema que compromete o futuro e a continuidade desta cultura etnicamente diferenciada da comunidade de Santiago. Segundo moradores, a área tradicional de uso do quilombo era de aproximadamente quatrocentos hectares. Há vinte e cinco anos atrás estas terras foram sendo griladas por posseiros e em seguida por empresas de plantio de eucalipto. Hoje, o espaço onde vivem os moradores de Santiago, se resume a apenas sete quilômetros quadrados. Segundo a liderança Marciano Soares, a Associação dos Quilombolas que engloba as três comunidades da região já encaminhou uma denuncia ao INCRA e está esperando que algo seja feito para que a legislação e os direitos não fiquem estáticos no papel. Além deste encaminhamento, a Associação já enviou o pedido de reconhecimento da comunidade como “Quilombola” a Fundação Cultural Palmares, em Brasília.
Santiago possui uma escola que funciona até a Quarta série do ensino fundamental. Estudam aproximadamente cinqüênta alunos e leciona três professores. A continuidade dos estudos se dá em Capelinha ou Setubinha, cidades mais próximas. Não há posto de saúde, apenas o atendimento do Programa Saúde e Família. A comunidade recebe energia elétrica mas não possui esgoto e nem água encanada.
Os moradores de Santiago participam da Banda de Taquara, onde tocam músicas típicas com viola, violão, caixas e flautas. A marujada é outra expressão tradicional da comunidade.
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