Mulher calunga indicada para Prêmio Nobel da Paz
Procópia dos Santos Rosa, líder quilombola Calunga, conta um pouco de sua luta
por Denise Viola
São 72 anos de vida e de luta pelo respeito à sua cultura, ao seu povo, à sua terra… de luta pelos direitos humanos, a começar pelo direito de
nascer e ser bem amparado e acolhido pelas mãos dessa parteira – Procópia dos Santos Rosa, quilombola calunga de Montes Claros, Goiás, uma das 1000 Mulheres pelo Nobel da Paz, recebe justa homenagem em Goiânia.
Ela, que não sabe ler nem escrever, é uma das 52 brasileiras indicadas para o Prêmio Nobel da Paz. Em entrevista à reporter Divina Jordão,
correspondente da Rede de Mulheres no Rádio e da Rede Cyberela – GO, Procópia dá uma aula de simplicidade e lucidez. Confira a entrevista
clicando aqui, e saiba mais sobre a homenagem recebida no artigo do jornal O Popular.
Mulher calunga indicada para Prêmio Nobel da Paz
Uma das 52 brasileiras escolhidas para premiação deste ano, Procópia dos Santos Rosa, de 72 anos, foi homenageada ontem em Goiânia, devido ao
trabalho realizado na comunidade.
Marília Assunção
Há vários anos, quando a comunidade calunga se viu ameaçada pelo projeto de uma barragem no Rio Paranã, na Região Nordeste de Goiás, ou quando os
grileiros ameaçaram tomar suas terras, ou ainda quando, até há bem pouco tempo, uma mulher entrava em trabalho de parto, o principal nome que ecoava entre os calungas era o de Procópia dos Santos Rosa. Aos 72 anos, lúcida e com a mesma maneira de falar, ao estilo dos negros que sobreviveram desde a escravidão nas casas encravadas nos vãos da Serra Geral, a parteira Procópia virou celebridade. Ontem, por exemplo, recebeu duas homenagens em Goiânia, de manhã, na Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, à noite, na abertura do congresso do Partido Social Brasileiro (PSB).
“Não sei ler. Não sei nada de escola. Falar o que eu sinto e o que eu sei. Esse é meu estudo”, dizia ontem a um grupo de repórteres essa calunga nascida em 1933. Quem a via não imaginava a mulher que, no passado, tímida, deixou o isolamento da aldeia para vir à cidade, reclamar às autoridades das ameaças ao povo calunga. A Procópia de hoje, expressiva em plena simplicidade, fala com firmeza sobre a falta de títulos de regularização fundiária para a reserva, situação que incomoda os calungas, habitantes de uma área tombada como patrimônio cultural. “Se a terra nunca tem título, significa que não é nossa, é do governo, concorda?”, questionou.
Dona Procópia comentou com os jornalistas sobre o momento especial que está vivendo. Ela é uma das 52 brasileiras escolhidas por um comitê
internacional, com sede na Suíça, formado por organizações não-governamentais feministas e de direitos humanos, para integrar o Projeto
Mil Mulheres, apresentado à Organização das Nações Unidas (ONU). A proposta é que, em vez de ser concedido a uma pessoa, o Prêmio Nobel da Paz de 2005 seja conferido às mil mulheres indicadas. O resultado da avaliação da ONU será divulgado no próximo dia 14 de outubro.
O nome de Procópia foi levado ao comitê junto com o nome de outras oito mulheres goianas. Ontem, na CUT, elas se encontraram, se abraçaram e posaram para fotos ao lado da escolhida, em plena felicidade, por dividir o resultado com uma figura tão expressiva. “Nem sei o que esse é prêmio, mas achava que eu não tinha esse merecimento”, dizia Procópia. O que ela sabe mais é das lutas para a preservação da comunidade.
Perguntada sobre quantos partos fez na vida, Procópia não se lembra. Só sabe que deu vida a gerações. E quem a ensinou? “Foram as velhas. Elas é que sabiam”, conta. Sobre por que parou de fazer partos, a parteira explica que está cansada, tinha de caminhar léguas pelos quase inacessíveis caminhos que ligam as casas da comunidade.
A casa dela fica no município de Monte Alegre. É a Fazenda Riachão, onde Procópia nasceu e sempre viveu, lembra Manoel Deltrudes, o Tico, vereador
calunga e presidente da Associação dos Calungas de Monte Alegre, uma das companhias da parteira em algumas das homenagens. “A indicação de Procópia por uma articulação internacional desse nível representa homenagear a luta pela vida, pela paz, pela cultura popular e pelos direitos humanos”, frisou Izabel Teixeira Campos, coordenadora da Comissão da Mulher Trabalhadora da CUT.
< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>