Quilombolas e sem-terra em ação conjunta
Quilombolas e sem-terra se unem
Remanescentes de escravos invadem fazenda onde lavradores estão desde julho
Girleno Alencar
Varzelândia – Os remanescentes de escravos da comunidade de Brejo dos Crioulos ocupam, desde a madrugada do último domingo, a Fazenda Bonanza, de 1.500 hectares, localizada neste município do Norte de Minas. Contudo, desde julho último lavradores sem-terra associados à Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas também estão na fazenda. Os quilombolas alegam que parte da propriedade está dentro da área de um antigo quilombo, acampamento de escravos fugitivos.
A propriedade pertence ao espólio de Dilson de Quadros Godinho. Ontem, os herdeiros anunciaram que impetrarão ação judicial de reintegração de posse. Os quilombolas alegam que o antigo quilombo tinha 17 mil hectares no Norte de Minas, área hoje constituída por várias fazendas sobre as quais eles pretendem reassumir a posse. O médico Dilson de Quadros Godinho Júnior, que administra o espólio, alega que, desde que os sem-terra invadiram três alqueires da propriedade, se dispôs a vender as terras para o Incra.
Não pretendo me envolver em qualquer tipo de conflito. Porém, até agora não tive resposta do órgão. Fiquei surpreso com a invasão pelos quilombolas. Acionei a Polícia Militar para lavrar o boletim de ocorrência e, agora, vou pedir a reintegração de posse na Justiça. O advogado Alberto Souza Lima deve entrar com a ação ainda hoje em Belo Horizonte, afirma.
A Superintendência Regional do Incra na capital mineira, por meio de sua assessoria de comunicação, informou que, no caso da invasão quilombola – que não tem, legalmente, o mesmo tratamento que os movimentos sem-terra – o órgão só pode tomar uma providência caso seja acionado pela Justiça ou pela polícia. Apesar de os sem-terra já estarem há mais tempo na área, não foi pedido vistoria da propriedade. Quanto ao assentamento dos quilombolas, a direção do Incra enviou um relatório sobre a situação para a Fundação Palmares.
O presidente da Associação dos Quilombolas de Brejo dos Crioulos, Francisco Cordeiro Barbosa, o Ticão, informa que 70 famílias quilombolas entraram na Fazenda Bonanza. Elas precisam começar o plantio da safra 2005/2006. Cansamos de esperar uma decisão do Governo federal sobre as terras do antigo quilombo. A invasão servirá para pressionar por uma decisão, pois muitas famílias estão passando fome. Também não queremos conflito com os sem-terra, que ocuparam parte da fazenda. Eles ficam na área que não pertence ao quilombo e nós em outra área, aponta Ticão.
Os quilombolas já invadiram as fazendas São Miguel e Pena Velha, também no Norte de Minas, mas desocuparam as propriedades por ordem judicial.
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