Secretaria de Educação insiste em acordo com Aracruz
Sedu ignora proposta dos negros para firmar acordo com Aracruz
Ubervalter Coimbra
Uma afronta aos quilombolas, que são vítimas da Aracruz Celulose. Esta é a definição de Isaías Santana, da Coordenação Estadual do Fórum das Entidades Negras do Espírito Santo, para o convênio da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) com a empresa multinacional para o desenvolvimento do programa Identidade Cultural do Negro.
Ele afirmou que o Fórum não participará de nenhuma atividade deste programa que envolve a Aracruz Celulose, por sua natureza. Considera os efeitos danosos da ação da empresa sobre as comunidades negras, particularmente graves no Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.
Dos negros desta região a empresa tomou terras. Aos que conseguiram resistir, a empresa agride com sua milícia armada, e com o uso de agrotóxicos nas plantações de eucalipto no entorno das propriedades.
Denunciou Isaías Santana que a Sedu vem ignorando proposta do Fórum para realização de curso sobre cultura negra para formação de professores. O curso foi proposto no ano passado, e reapresentado no dia 13 de maio deste ano.
Afirma Isaías Santana que a Sedu chegou a inscrever 200 professores em seminário sobre o assunto, mas que ficou nisso. A proposta do Fórum é para capacitar os professores e permitir ao governo do Estado atender às determinações da Lei 10639/03.
A lei tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Afirma a liderança negra que o curso oferecido pelo Fórum custa no máximo 30% do que o poder público paga para treinamentos desta natureza. Diz ainda que para oferecer o curso o Fórum pode formar um grupo com doutores e mestres em diversas áreas, profissionais não só do Espírito Santo, como de outros estados.
Destaca ainda que entre os profissionais qualificados para dar formação sobre cultura negra estão tanto negros, como brancos, mas todos com militância nesta área.
Participam do Fórum das Entidades Negras do Espírito Santo dez entidades, entre as quais a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
Mas a Sedu não só ignorou a proposta do Fórum, como fez acordo com o algoz dos quilombolas, principalmente no Sapê do Norte, para formar professores sobre cultura negra.
Com o acordo entre a Sedu e Aracruz Celulose, 293 profissionais do magistério que lecionam as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Educação Artística nos municípios de as prefeituras de Jaguaré, Conceição da Barra, São Mateus e Pedro Canário vão ser receber instrução com visão da multinacional para trabalhar junto a 24.857 jovens do ensino fundamental e médio, em 48 escolas, 30 estaduais e 18 municipais.
O Espírito Santo tem 75 comunidades quilombolas já identificadas, com 4.000 famílias, das quais 34 comunidades e 1.500 famílias em Sapê do Norte.
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