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Secretaria de Educação chama Aracruz para ensinar cultura negra

Depois de perseguir quilombolas, Aracruz é chamada pela Sedu para ensinar cultura negra

Ubervalter Coimbra

O programa Identidade Cultural do Negro, da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), terá como parceira a multinacional Aracruz Celulose. “Um absurdo”, reage Domingas dos Santos Dealdina, liderança quilombola, que sintetiza: “A Sedu não sabe o que está fazendo. Só se for para a empresa contar uma história suja, pois foi ela que destruiu nossa cultura”. A Aracruz Celulose acabou com a cabula, ritual religioso, por exemplo.

Hoje, algumas manifestações culturais são realizadas como forma de resistência, no norte do Estado. Mas não só isso: a multinacional provocou a diáspora dos quilombolas do antigo território de Sapê do Norte, formado pelos municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Antes da chegada da empresa com seus eucaliptais, lá existiam 2 mil comunidades remanescentes de quilombos, com 10 mil famílias. Hoje, são 34 comunidades, com cerca de 1.500 famílias. Os quilombolas que resistiram vivem em extrema pobreza, mal produzindo alimentos para a própria subsistência.

As informações divulgadas pelo governo sobre o programa Identidade Cultural do Negro indignaram Domingas dos Santos Dealdina, representante no Estado da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq): “Ai, meu Deus. Só se for para a Aracruz Celulose contar uma história suja, sem atores”.

E segue: “Será uma história imunda, de quem causa impacto, pois a empresa destruiu nossa história e nossa cultura. A Aracruz Celulose não tem competência para contar a história de Sapê do Norte, território que destruiu. Nós, os quilombolas, é que temos de contar nossa história, sem ouvir a Aracruz Celulose. Fomos e somos muito prejudicado por esta empresa, que entra em nossa história nos prejudicando com todos os males”.

Domingas dos Santos Dealdina afirma que “a Sedu não sabe o que está fazendo tentando colocar a história da África nas escolas com a visão desta empresa. Eles (da Sedu) são um bando de incompetentes e inconseqüentes. Não recebemos nenhum convite da Sedu para contar a história da África e nossa história no Brasil. E a gente não pode se oferecer. Eles é que têm de nos procurar”.

A parceria da Sedu com a multinacional Aracruz Celulose para o ensino da cultura negra será denunciada em nível nacional, assegurou a dirigente da Conaq.

Sobre a política do governador Paulo Hartung a respeito dos quilombolas, queixa-se a liderança: “Nunca saiu da boca do governador que existem comunidades quilombolas no Estado. Mas existimos. Somos em todo o Estado 75 comunidades já identificadas, com 4,000 famílias, das quais 34 comunidades e 1.500 famílias em Sapê do Norte”.

E mais: “Ele (o governador) vai se arrepender por nos ignorar. Vamos retomar nossas terras, não importa com quem esteja a terra. No Sapê do Norte nossas terras foram invadidas pela Aracruz Celulose”. A liderança negra lembra que a luta pela reocupação das terras pelos quilombolas já começou.

Além de não dar apoio aos quilombolas, o governo do Estado ainda permite que suas polícias (Civil e Militar) apoiem os milicianos armados da Aracruz Celulose. Permitem, desta forma, que os milicianos atuem com arbitrariedade contra os negros, inclusive quando estes estão catando restos de eucalipto para fazer alimentos, como o beiju, para vender, garantindo sua subsistência.

A voz oficial

No site do governo do Estado, a Sedu informou que os “professores da rede estadual recebem formação sobre a identidade cultural dos negros”. O programa “Identidade Cultural do Negro” tem como objetivo “capacitar professores da rede pública estadual de ensino para que possam inserir nas disciplinas que lecionam elementos da cultura e da história afro-brasileira”.

Diz o governo que o programa está sendo implantado “na rede estadual de educação a partir de um acordo de cooperação técnica entre a Secretaria Estadual de Educação (Sedu), as prefeituras de Jaguaré, Conceição da Barra, São Mateus e Pedro Canário e a empresa Aracruz Celulose”. O convênio foi assinado nesta segunda-feira (1), no Pólo Universitário da Ufes, em São Mateus.

E mais: “O acordo prevê que os professores desses quatro municípios participarão, a partir do dia 20 de agosto, de um curso com duração de 90 dias. Estarão envolvidos 293 profissionais do magistério que lecionam as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Educação Artística para 24.857 jovens do ensino fundamental e médio, em 48 escolas, 30 estaduais e 18 municipais.

Os professores serão capacitados através de uma série de palestras sobre a questão racial na sociedade, distribuição de livros sobre a história dos negros no Espírito Santo, pesquisas bibliográficas e pesquisas de campo. Também será realizado um concurso de redação voltado para os alunos das oitavas séries das escolas envolvidas, cuja premiação será um computador para cada aluno vencedor em seu município e sua escola”.

< O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo.>

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