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ES – Eucalipto causa problemas

Lavoura de eucalipto prejudica população tradicional
Moradores da comunidade de Linharinho

Linharinho é uma comunidade quilombola, formada por 42 famílias no município de Conceição da Barra (ES). As notícias de quilombos na região vêm do século XIX,quando cerca de 30 negros angolanos chegaram às terras de Rita Cunha, presidente do Partido Liberal de São Mateus e dona de uma sesmaria que ia desde a margem norte do rio Cricaré até o rio São Domingos. Elza Maria dos Santos, a Dona Miúda, conta como vive a comunidade:

“Tinha grandes terras para os negros trabalhar. Aqui vivia a família do Ernesto, onde nós estamos hoje, o irmão pegava essa parte aqui e trabalhava até lá. Outro irmão trabalhava até lá. E vinha a família do João Cosme e vinha a família do Manuel Joaquim.

Antes da chegada da Aracruz, vieram várias firmas que também eram de eucalipto. A reflorestadora Krikaré. Os negros não tinham documentação das terras dos antigos, porque era terra em comum. Cada um trabalhava e vivia um ajudando o outro, como a gente ainda
vive aqui. O Estado foi passando essas terras.

Tudo que a gente foi falando, foi passando para os antigos. Tiveram várias pessoas de mais alto nível, muitas pessoas que diziam que eram donas do poder, eram mandantes. Elas iam
tomando as terras e repassando para a Reflorestadora Krikaré que, com o tempo, passou para a Aracruz Celulose. Hoje, nós estamos todos impactados. Nossos animais foram acabando. Quem tinha gado, foi acabando. Galinha, cavalo. As ervas se perderam. Não temos mais. Não temos mais terras para trabalhar. Nossa preocupação é essa. A gente se preocupa muito com nossos filhos, com nossos netos e bisnetos. Estamos nessa luta. A gente tinha um grupo de consciência negra para conscientizar o povo negro que, aqui, era muito discriminado.

Em Conceição da Barra, os negros tinham até vergonha, pois eram muito discriminados. Negro aqui era para apanhar. Em Linharinho, tivemos até casa de gente nossa queimada por
pessoas da Barra. Depois, com essa terra aqui, dizendo que era do Estado. O Estado também teve culpa nisso. Se o Estado não fizesse isso com o povo da Barra, aqueles que diziam que eram os donos? Foi se acabando tudo. Muita coisa foi se perdendo, pessoas indo
embora, pois não tinham acesso a como trabalhar a terra. Era muito preparo…

Hoje, vocês vêem o Linharinho assim, pelo sacrifício que o pessoal está mantendo. Antes, a gente não usava lamparina era a candeia. A gente pegava água no poço bem distante, não tinha acesso a nada. Hoje, graças a Deus, a gente, a comunidade. Com o esforço da gente,
o povo da comunidade – os que restaram – tem as coisas. Mesmo impactados pela Aracruz celulose, lutamos para não perder mais um pedacinho do que se tem”.

< O Observatório Quilombola reproduz as informações que recebe de suas fontes na íntegra, não se responsabilizando pelo seu conteúdo. >

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