Um retrato dos quilombos brasileiros
UnB lança mais completo mapa das comunidades quilombolas do país e identifica 2,2 mil povoados espalhados por todas as regiões
Boa parte da história do povo e do território brasileiros passou pelos quilombos, locais de difícil acesso para onde iam os negros que fugiam da escravidão. Apesar da importância histórica dessas localidades, pouco se conhece sobre elas. Para mudar esse quadro, o Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (Ciga) da Universidade de Brasília (UnB) lançaram o Segundo Cadastro Municipal dos Territórios Quilombolas do Brasil. É o levantamento mais completo com registros de 2.228 comunidades quilombolas espalhadas por todas as regiões do país. As informações foram organizadas em um mapa.
Com a divulgação dos dados, o Ciga pretende contribuir para a preservação dos territórios quilombolas que, por guardarem parte da história do país, devem ser consideradas áreas de proteção. Segundo o professor Rafael Sanzio, coordenador do centro e do levantamento, essa preservação passa necessariamente pela questão fundiária. Por não terem documentação oficial, esses grupos são alvo de pressão para deixar a terra que ocupam. “São territórios de risco que se não forem assegurados pelo governo vão desaparecer”, alerta Sanzio.
O levantamento é uma segunda etapa do projeto Geografia Afro-brasileira e Educação desenvolvido por professores e estudantes de graduação e pós-graduação ligados ao Ciga. De acordo com Sanzio, a diferença de 1.388 registros entre o primeiro cadastro, em 2000, e o segundo, em 2005, pode ser explicada por políticas afirmativas e outras ações da sociedade pelo fortalecimento da identidade negra. “Tivemos um movimento mais organizado dessa população e também começamos a verificar o resultado das transformações na educação sobre os afro-brasileiros”, diz.
Para organizar o cadastro, o Ciga coletou dados de organismos oficiais das esferas federal, estadual e municipal, de documentos enviados por representações das comunidades afro-descendentes e de pesquisas desenvolvidas nas principais universidades brasileiras. No mapa, estão identificados os municípios e o número de comunidades quilombolas pertencentes a eles.
A maioria das comunidades quilombolas está concentrada na faixa litorânea. Algumas localizadas no interior do país estão mais próximas de áreas urbanas ou à margem delas. Outras estão em regiões predominantemente rurais. A diferença de localização aumenta ou diminui o nível de influência a que estão submetidas.
Além do lançamento do cadastro, o projeto Geografia Afro-brasileira e Educação realiza, este ano, oficinas e exposições cartográficas itinerantes em seis capitais brasileiras e também em Paris, dentro da programação do ano do Brasil na França. As oficinas Introdução à Geografia Afro-Brasileira são destinadas a professores, lideranças comunitárias e representantes do movimento negro que realizam atividades de combate ao racismo e ensino de conteúdos africanos em seus municípios.
Já a exposição cartográfica itinerante A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos é dividida em três módulos integrados representados em 45 painéis. No Módulo I, são apresentados os temas fundamentais da geografia da África: minerais, diversidade ambiental, fronteiras aproximadas dos principais estados políticos.
No Módulo II, é possível conhecer os resultados do mapeamento com os registros das comunidades remanescentes de antigos quilombos. Na última parte da mostra, é feito o monitoramento espacial dos territórios quilombolas que tiveram suas terras demarcadas e tituladas desde a Constituição de 1988.
Confira a programação do projeto Geografia Afro-brasileira e Educação:
MAIO
Belo Horizonte
Oficina Introdução a Geografia Afro-Brasileira
Data: 19 e 20 de maio
JUNHO e JULHO
Rio de Janeiro
Exposição A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos
Data: 30 de junho a 10 de julho.
Local: Centro Cultural da Caixa. Telefones: (21) 2262-8152 / 2262-5483
Oficina Introdução a Geografia Afro-Brasileira
Data: 4 e 5 de julho
São Paulo
Exposição A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos
Data: 20 a 31 de julho
Local: Centro Cultural da Caixa. Telefones: (11) 3107 0498 ou 3558 2122.
Oficina Introdução à Geografia Afro-Brasileira
Data: 22 e 23 de julho
AGOSTO
Porto Alegre
Oficina Introdução à Geografia Afro-Brasileira
Data: 18 e 19 de agosto
SETEMBRO
Brasília
Exposição A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos
Data: 14 a 25 de setembro
Local: Centro Cultural da Caixa. Telefones: (61) 414 9450 ou 414 9752
Oficina Introdução a Geografia Afro-Brasileira
Data: 16 e 17 de setembro
OUTUBRO e NOVEMBRO
Paris- França
Exposição A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos
Data: 20 de outubro a 02 de novembro
Local: Maison do Brésil. Telefone: 00 xx 33 158 102 300
Maceió
Exposição A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos
Data: 16 a 25 de novembro
Local: Museu da Imagem e do Som de Alagoas. Telefone (82) 315 1925 ou 315 1926