MG – Barro Preto e Indaiá denunciam ocupação
Comunidades quilombolas de Barro Preto e Indaiá denunciam ocupação
Comunidades Quilombolas de Barro Preto e do Indaiá denunciam a ocupação em seus territórios tradicionais
A Comunidade de remanescentes quilombolas do Indaiá se localiza no município de Antônio Dias. As duas comunidades possuem uma grande relação de parentesco. Segundo a memória dos moradores, os dois moradores mais antigos se chamavam João Prisco e Leonardo. Moram atualmente em Indaiá aproximadamente cinqüenta pessoas. São treze famílias distribuídas em dezoito casas de adobe e pau a pique, que recentemente receberam a rede elétrica. Todas as famílias estão sendo atingidas diretamente com a ocupação de fazendeiros em seus territórios. Os fazendeiros estão desmatando toda a região, destruindo as nascentes que abastecem os moradores para criar gado e plantar eucalipto. Estas atividades estão criando um grande impacto para os moradores, que praticam o extrativismo do palmito no que resta das matas. O abastecimento de água está comprometido. O plantio do eucalipto não respeita as nascentes e ainda polui a água com o uso constante de agrotóxico. A questão da terra é outro problema crasso para os quilombolas, pois o seu território tradicional possui oitenta hectares; sendo que atualmente estão confinados em apenas vinte hectares.
A Comunidade de remanescentes quilombolas de Barro Preto localiza-se no município de Santa Maria do Itabira. A comunidade anteriormente denominava-se Córrego do Santo Antônio, posteriormente passou a chamar-se Barro Preto. Esta denominação é oriunda da prática de seus moradores em pintar a roupa de preto, usando barro, cipó e gabiroba durante os períodos de luto.
O uso e ocupação da localidade onde situa-se Barro Preto é diversificado, este por vezes não considera as aptidões da localidade, o que desencadeia impactos de ordens diferenciadas. Os fazendeiros que atuam nas áreas oriundas das terras quilombolas retiram a vegetação natural de recarga e mata ciliar, desrespeitando a legislação vigente e a biodiversidade, que inclui a si e demais comunidades Quilombolas. Atualmente a paisagem vegetativa de Barro Preto encontra-se parcialmente degradada, estando esta degradação associada a queimadas; compactação do solo, pelo pisoteio do gado; agrotóxicos oriundos da silvicultura de Eucalipto e retirada de vegetação de áreas cujo solo é muito arenoso, e assim impróprio ao cultivo e criação. Estas áreas constituem solos não muito evoluídos, cuja aptidão é a recarga do lençol freático. A comunidade de Barro Preto totaliza aproximadamente 600 pessoas, sendo estas divididas em aproximadamente 170 famílias, distribuídas em cerca de 180 casas vistas de forma agrupada. No entorno da comunidade fazendeiros praticam silvicultura, pecuária de corte, de modo insustentável.
Segundo o relato dos moradores a área de Barro Preto foi ocupada aproximadamente na segunda metade do século XIX. Os primeiros habitantes foram: Tobias Pires, João Grigó da Silva, Francisco Acácio e Quitéria Carneiro. Algo é evidente, a comunidade de Barro Preto teve suas origens advindas da Indaiá, onde habitavam seus antepassados mais próximos. As famílias de Barro Preto tem suas terras divididas em lotes onde cada uma vive separadamente. Nestas realizam freqüentemente a agricultura familiar e bordados. Para complementar a alimentação é comum membros da comunidade se organizarem em grupos e realizar o extrativismo de palmito, abundante na região. Esta extração é essencial a produção artesanal de esteiras e chapeis, confeccionados por três famílias da comunidade. A atividade artesanal também é perceptível sob a forma de doces e quitandas, sendo produzidos por 70 famílias, para consumo familiar e venda juntamente com os bordados locais, confeccionados por cinco famílias. A área que a comunidade destina ao cultivo corresponde aos quintais das casas, são de tamanho diferenciado.
As lideranças de Barro Preto e Indaiá foram ao INCRA para oficializar a denúncia da ocupação de seu território tradicional e o uso das terras para o plantio de eucalipto e a criação de gado. Nas discussões as lideranças buscavam solucionar a perda de suas terras, tendo como subsídio o decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003. Este dita que as comunidades remanescentes de quilombos ao se auto definirem enquanto grupo étnico-racial de ancestralidade quilombola e de trajetória histórica vinculada a um espaço territorial tem direito a propriedade atual e também a área que pertenceu a seus antepassados.