ES – Na luta pela reforma agrária e contra a monocultura do eucalipto
Conceição da Barra inaugurou no Espírito Santo a jornada nacional de lutas do Movimento dos Trabalhadores rurais sem Terra, MST, que iniciou neste mês de Abril em várias partes do país. Os estímulos do governo federal e estadual ao latifúndio e ao agronegócio, em detrimento da Reforma Agrária e da agricultura familiar, são o centro dos protestos. Neste caso, a monocultura do eucalipto é o grande violador de direitos, por ser uma plantação que já causou muitos prejuízos aos indígenas, quilombolas, campesinos, ex- trabalhadores entre tantos outros.
Dia 10, a fazenda São João de 1.150 hectares, pertencente à empresa “Fazendas Ecológicas S/A” (a antiga Coimex Agrícola S/A), foi ocupada por 140 famílias de trabalhadores rurais sem terra, que desde o ano passado cobram do governo a desapropriação desta para assentamento rural, impedindo que a mesma seja comprada pela Bahia Sul Celulose ou outra empresa que queira plantar ainda mais eucalipto num município já ocupado com 60% desta monocultura. A proprietária já conseguiu através de decisão judicial a reintegração de posse, significando o despejo das famílias que estão na área.
Em maio de 2004, o MST já havia ocupado uma área da Bahia Sul, vizinha à fazenda São João, quando foi deflagrada uma campanha internacional pela desapropriação da fazenda, buscando impedir que ela fosse adquirida por empresas plantadoras de eucalipto, que já são os maiores concentradores de terra no estado. Dali pra frente, o INCRA vem disputando a compra do terreno com o dono, que dificulta a venda para Reforma Agrária, exigindo um valor bem acima do valor de mercado da região. Tem sido prática das empresas de celulose e cana-de-açucar no Espírito Santo superfaturar o preço da terra criando um grande obstáculo para o assentamento das mais de 700 famílias, só do MST, acampadas no estado.
Vale lembrar que este município era praticamente ocupado por famílias quilombolas, que foram expulsas da terra pela empresa Aracruz Celulose. As famílias que resistiram estão ilhadas pelas monoculturas do eucalipto e da cana, com sérias dificuldades de sobrevivência, realidade também vivida pelos indígenas Tupinikim e Guarani no município de Aracruz. Já é do conhecimento público que os processos de aquisição de terras pela Aracruz foi ilegal e marcado pela violência, com a conivência e estímulo dos governo estadual e federal, que dispuseram inclusive das terras devolutas para esta finalidade (Relatório da violação de Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais na Monocultura de Eucalipto: a Aracruz Celulose e o estado do Espírito Santo, publicado em 2002).
Juntos, na luta pela terra e pela vida digna para os quilombolas, os indígenas, os campesinos e os trabalhadores sem-terra e contra a expansão da monocultura do eucalipto, apoiamos o MST e exigimos:
– que o governo federal através do INCRA garanta a desapropriação da
fazenda São João para fins de reforma agrária;
– e que o governo federal cumpra com o Plano Nacional de Reforma
Agrária.